A paz consigo e os ismos do totalitarismo

AutorHeron José de Santana Gordilho
CargoMestre (UFBA) e Doutor (UFPE) em Direito. Professor de Direito da UFBA e UCSal e Promotor de Justiça
Páginas319-322

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Entre os dias 16 a 19 de setembro tive a honra de participar do 3 Congresso Vegetariano Brasileiro, realizado na cidade gaúcha de Porto Alegre. Neste evento,sob a liderança incansável Marly Winkler, fui convidado a participar da campanha promovida por Rajendra Pachauri e Paul McCartney alertando que os governos locais podem desempenhar importante papel ajudando os cidadãos a reduzirem o consumo de carne e outros produtos de origem animal, por exemplo, promovendo campanhas como "um dia sem carne por semana".

Ao apoiar essa campanha tive de enfrentar uma das mais sensíveis questões de todos os movimentos sociais, que consiste em saber se reformas pontuais enfraquecem ou fortalecem o sistema de exploração institucionalizada dos animais.

Em outras palavras, apoiar pequenas mudanças ajudam na luta abolicionista ou simplesmente aliviam as pressões revolucionárias, alimentando ainda mais o sistema de injustiças contra os animais? Henry Salt, o primeiro autor no Ocidente a reivindicar direitos para os animais, em célebre artigo publicado na Revista Humanity, 1900, afirma que a aceitação ou recusa de certos compromissos com o sistema é uma questão política, não de princípios, de modo que o apoio a cada medida deve ser decidido

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pelo movimento de acordo com condições e circunstâncias específicas, pois muitas vezes aquilo que é aconselhável em um caso pode não ser em outro.

Ainda que a diversidade de métodos possa ser benéfica ao movimento, tanto é um equívoco pensar que toda e qualquer medida benestarista será sempre prejudicial aos animais quanto achar que o discurso abolicionista reforça ainda mais o sistema, retirando a possibilidade de apoio por parte da população, que tenderia a ver os ativistas como um grupo de radicais inconseqüentes, doutrinários, sonhadores e distanciados da realidade social.

Embora eu tenha sido o primeiro a escrever sobre abolicionismo animal no Brasil, em um tempo em que a maioria dos autores – com os quais tenho uma enorme dívida - ainda escreviam sobre a obra de Peter Singer, considerado por muitos o principal representante do benestarismo, além de mentor do PETA, organização acusada de celebrar acordos que legitimam a exploração dos animais, não me sinto autorizado a disseminar ódios ou rancores entre os meus companheiros de luta.

Agindo desse modo estaria apenas desviando o foco dos verdadeiros responsáveis pela calvário dos animais: aqueles que praticam e lucram e aqueles que sustentam e...

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