O planejamento de aulas virtuais: uma construção para além da EAD
| Autor | Maristela Barcelos Castro |
| Ocupação do Autor | Mestre em Políticas Públicas (UNICEUB/DF), Especialista em Psicopedagogia (PUC/RS), Educação a Distância (SENAC/RS) e Pedagogia (FAFIMC/RS) |
| Páginas | 21-55 |
21
Capítulo 1
O PLANEJAMENTO DE AULAS VIRTUAIS:
UMA CONSTRUÇÃO PARA ALÉM DA EAD
Maristela Bar celos Castro1
Resumo: Este artigo traz contribuições sobre os novos cenários educativos
em que o Sars-coV-2 inseriu o mundo globalizado no final do ano de 2019
e 2020 e, especificamente, sobre as consequências diretas sobre os cursos
de direito no Brasil. O planejamento do trabalho docente, a metodologia,
os tempos pensados para cada estudo, os recursos até então utilizados e as
próprias atividades, que na modalidade presencial pareciam simples e
fáceis de programar, agora se tornaram um quebra-cabeças complexo no
novo cenário de aulas remotas mediadas por dispositivos tecnológicos e
internet. No decurso desse estudo veremos quais são os principais pontos
de atenção docente nesse novo lugar/tempo/espaço de aprendizagem em
que a educação jurídica foi inserida.
1. Introdução
Não se pode dizer que foi fácil ou simples transpor de um ambiente
educacional presencial conhecido e confortável há quase 200 anos, como
o das escolas de direito no Brasil, para outro ambiente totalmente
desconhecido e aparentemente hostil, frio e amedrontador como o online,
remoto, ao vivo ou síncrono, como tem sido chamada a modalidade que se
manifestou durante e a partir da pandemia de 2020. Ninguém perguntou
sobre querer trocar, estar pronto ou ser esse o melhor momento. A mudança
1 Mestre em Políticas Públicas (UNICEUB/DF), Especialista em Psicopedagogia
(PUC/RS), Educação a Distância (SENAC/RS) e Pedagogia (FAFIMC/RS). E-mail:
maristela.ca stro@hotmail.com
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foi abrupta, repentina, inesperada e severa e até agora, não se sabe como
ou quando retornar às atividades presenciais. A partir da hecatombe
provocada pelo Sars-coV-2, nome oficial da Síndrome Respiratória Aguda
desenvolvida pelo Coronavírus-22 em 2019 e 2020, e das possibilidades
que dela nasceram, muitas oportunidades e dúvidas surgiram sobre a
modalidade, que aqui chamaremos de apenas remota. Questões como
planejamento, metodologia, tempo, recursos e atividades se tornaram
aparentemente processos desconhecidos nesse novo ambiente e ganharam
sentidos, características e interações novas, extras e diferentes.
Nesse artigo, por meio de estudos científicos, revisão bibliográfica
e estudos empíricos, traremos reflexões e as melhores práticas de uma
experiência de mais de 30 anos com formação de professores da educação
básica e superior, abordando inicialmente a quebra do paradigma da aula
presencial nos cursos jurídicos e como o novo modelo trouxe profundas
transformações na área. Na sequência refletiremos sobre os elementos, as
novas formas de interação não presencial, o uso de dispositivo móveis e a
relação com a aula mediada por tecnologias, a questão do tempo, da
presença e gravação das aulas e a adequação do uso, ou não, de webcans.
No terceiro momento, traremos o planejamento docente de aulas, a
conexão com os novos cenários educacionais e a necessidade de clareza
nos processos didáticos. Nesse caso, a impossibilidade de transpor a aula
presencial para a remota, em vista das inexoráveis diferenças, impedem a
analogia e levam a um novo tipo de ordem, planos e execuções dos
encontros educacionais. Na última parte do artigo, abordaremos a questão
metodológica, o uso de recursos e atividades em uma aula online e a
diferença entre eles que, muitas vezes, se confundem e induzem ao erro
tanto na hora do planejamento, como na da execução. Em cada uma das
partes traremos instrumentos utilizados ao longo dos anos que contribuem
com um novo olhar e entendimento sobre questões que o professor,
principalmente o brasileiro, ainda se debate muito.
Nesses contextos mutantes a quebra do paradigma da aula
presencial provocada pela pandemia e por todo o cenário tecnológico que
já vinha se manifestando nestes últimos anos, concretiza-se.
2 BRASIL Ministério da Saúde. Sobre a doença. Disponível em:
https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca , acesso em setembro de 2020.
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2. Quebra de paradigma: do espaço físico ao digital
Apesar da realidade flagrante, a lembrança das carteiras
enfileiradas, da porta aberta, das janelas envidraçadas, das cortinas caindo
sobrepostas, do quadro, do giz e do datashow, dos meninos e meninas
cheios de vida em conversas e burburinhos pelos corredores, além de
gravatas, ternos, batons e saltos altos, que evidenciavam um sonho, o
sentimento saudoso de falta de alguma coisa pode apertar. De repente, tudo
mudou, a docência virou um “bicho de sete cabeças” e os planos de aula,
aparentemente eficientes para a realidade anterior, para pouca coisa servem
no modelo de exceção vivido e para a nova era por vir.
O arquétipo de docência jurídica presencial é um marco nos cursos
de direito. A forma como os Projetos Pedagógicos dos Cursos, PPCs,
foram construídos e o programa, as bibliografias escolhidas e planejadas e
desenvolvidas as aulas, demonstrou um alinhamento nacional. Em
qualquer lugar do Brasil se podia encontrar basicamente o mesmo
currículo, matriz, tempo de duração de curso, distribuição dos conteúdos
nos semestres, nomes de disciplinas3 e formato de aula. Por meio desses
elementos muito similares percebeu-se a constância educacional no ensino
jurídico e o formato bastante tradicional de ensinar.
Não obstante a vertente mais tradicionalista, importantes
transformações ocorreram ao longo dos anos nas diretrizes curriculares dos
cursos de direito, DCNs, como na última ocorrência em 2018. Nessas
mudanças, questões como o desenvolvimento de competências, o
tratamento transversal dos conteúdos, as práticas e estágios, os modelos
consensuais de tratamento de conflitos entre outras, foram abordadas de
forma diferenciada. Além do percurso de mudanças legais que vieram
ocorrendo, chegado o ano o fim do ano de 2019 e durante o ano de 2020, a
educação jurídica foi forçada a transformações maiores. Diante de novos
cenários de pandemia, a sociedade global precisou mudar e o mundo
presencial, físico, se transformou em digital virtual4. A educação jurídica,
3 BARCELOS CASTRO, Maristela. A formação do jurista brasileiro: entre a litigância
excessiva e a insuficiência de modelos compositivos. Brasília: UniCEUB. Dissertação de
Mestrado. 2018.
4 BACKES, Luciana; SCHLEMMER, Eliane. A configuração do espaço v irtual de
convivência na formação do educador em mundos virtuais . In: Congresso
Internacional ABED de Educação a Distância, 14, 2008, Santos (SP). 14° Congresso
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