A política externa brasileira nos governos Itamar e Dilma

AutorBeatriz Rodrigues Bessa Mattos e Solange Pastana de Góes
Páginas279-294
279
Capítulo 16
A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NOS GOVERNOS
DILMA E TEMER
Beatriz Rodrigues Bessa Mattos1
Solange Pastana de Góes2
Introdução
O presente capítulo tem como objetivo lançar luzes sobre as
estratégias de inserção internacional adotadas pelo Brasil durante os
governos de Dilma Rousseff (2011- 2016) e Michel Temer (2016 -
2018). Entre alguns especialistas da área, vigora o entendimento de
que as mudanças de rumos da política externa tendem a ser
originadas por fatores de reestruturação doméstica e choques
externos, além de mudanças de líderes políticos e na burocracia que
os apoia (VIGEVANI; CEPALUNI, 2007).
O período em tela foi permeado por mudanças significativas
em todos esses âmbitos, ainda que algumas dessas transformações já
estivessem em curso desde um momento anterior. As repercussões
do choque financeiro de 2008, os entraves às negociações
multilaterais do comércio, a consolidação da China como potência
em ascensão, o desenrolar da Primavera Árabe no Oriente Médio e
no norte da África - ocasionando debates no âmbito do Conselho de
Segurança das Nações Unidas (CSNU) e a intensificação do fluxo
1 Doutora em Relações Internacionais IR/PUC/RJ. Professora do cur so de
Relações Inter nacionais - UVA. Pesquisadora Sênior da Plataforma
Socioambiental do BRICS Policy Center. E-mail: bea trizrbm@gmail.com
2 Doutora em Relações Internacionais PPGRI/UERJ. Professora do Curso de
Relações Internacionais - UVA. E-mail: sola nge.goes@uva.br
280
de refugiados -, a crise instaurada na Venezuela com suas
reverberações regionais e, de forma mais direta, a crise política e
econômica instalada no Brasil, que culminou no processo de
impeachment de Rousseff, formam o contexto em meio ao qual a
política externa brasileira (PEB) foi se remodelando.
Foge do intuito deste capítulo categorizar esses eventos e
tecer causalidades acerca de como influíram na PEB ao longo do
período em questão. De forma menos ambiciosa, busca-se apresentar
uma visão conjuntural que possibilite uma compreensão mais ampla
acerca das continuidades, inflexões e rupturas que marcam a
trajetória da política externa brasileira durante os dois governos.
1. A PEB durante o Governo Dilma (2011-2016)
A chegada de Dilma Rousseff ao poder coincide com um
momento em que o Brasil dispunha de notável prestígio
internacional. Fatores domésticos, como a estabilidade política e
econômica e a adoção de políticas de inclusão social bem-sucedidas,
somados a um contexto internacional de desgaste das potências
ocidentais e a uma atuação diplomática assertiva, conferiram ao país
uma imagem de potência em ascensão, consolidada especialmente
ao longo dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Como sua
sucessora, as expectativas eram de que Rousseff desse continuidade
à política externa “ativa e altiva” delineada por Celso Amorim
(SILVA, 2022), ainda que com menor ênfase na estratégia da
diplomacia presidencial.
1.1. O primeiro mandato: continuidade ou inflexão da política
externa “ativa e altiva”?
No início de seu mandato, Dilma nomeou Antônio de Aguiar
Patriota como ministro das Relações Exteriores (MRE). Diplomata
de carreira e colaborador próximo de Amorim, Patriota esteve à
frente do Itamaraty até agosto de 2013, quando foi sucedido por Luiz

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT