A política externa do governo Bolsonaro (2019-2022): nas trilhas do alinhamento automático ao americanismo

AutorLuiz Felipe B. Osório e Ana Carolina Aguiar S. Castilho
Páginas295-310
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Capítulo 17
A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO BOLSONARO
(2019-2022): NAS TRILHAS DO ALINHAMENTO
AUTOMÁTICO AO AMERICANISMO
Luiz Felipe Brandão Osório1
Ana Carolina Aguiar S. Castilho2
Introdução
A política externa possui uma importância central nas
estratégias de desenvolvimento de países periféricos, como o Brasil.
Ela pode alavancar a condição interna, oferecendo elementos e
possibilidades que vão além daquelas que estão dentro do território.
O contrário também é verdadeiro. Ela pode restringir ou ceifar
muitas oportunidades, a depender do juízo político envolvido.
Muitos países, principalmente os desenvolvidos e os autônomos, se
valem de sua atuação externa para seu crescimento, sua expansão e
até mesmo para sua sobrevivência. Logo, dada a nuclearidade dessa
política pública, ela deveria ter uma presença ainda maior na agenda
das sociedades. Contudo, sua relevância não significa proximidade.
Aparentemente distante do grande público, ela oscila momentos de
muita repercussão com períodos de forte ostracismo.
1 Vice-diretor do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) e professor do
curso de Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação de Ciências
Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) - UFRRJ. E-mail:
luizfelipe.osorio@gmail.com
2 Mestranda em Economia Política Internacional - PEPI/UFRJ. Grad uada em
Relações Internacionais - UFRRJ. Integrante do grupo de pesquisa “Discurso,
Redes Sociais e Identidades Sociopolíticas (DISCURSO- CPDA/UFRRJ). E-mail:
carola guiarsc@gmail.com
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A história nacional comprova essa percepção. Desde sua
independência, a primeira preocupação é o reconhecimento por seus
pares. No período de uma economia agrária, as exportações de bens
primários ocupavam posição central no debate político, bem como
os tratados comerciais. Após o deslocamento do eixo econômico
para a indústria, foi por meio da barganha internacional que o Brasil
financiou sua base siderúrgica e metalúrgica, galgando patamares
elevados de industrialização na periferia, principalmente a partir da
nacionalização do petróleo. Hoje, a retórica de necessidade de
atração de investimento externo permeia parcela considerável das
reformas e projetos.
Não obstante os importantes acontecimentos do passado, a
globalização financeira e todas as suas reverberações impuseram a
inevitabilidade do cenário externo, intensificando a presença da
questão internacional no debate político. A partir da década de 1990,
sobretudo, consolida-se o senso comum de que a internacionalização
seria implacável. O que gerou efeitos na prática e na teoria. Não
fortuitamente os cursos e estudos sobre Relações Internacionais,
enquanto campo científico, ganharam abrangência. Nessa toada, a
política externa capilariza-se e passa a ser discutida para além dos
gabinetes oficiais. Os holofotes voltam-se às relações exteriores do
Brasil na Nova República.
Nesse sentido, é a partir do protagonismo e do alargamento
dos laços diplomáticos por todos os quadrantes do globo,
promovidos pelos dois governos Lula e seguido pelos mandatos
subsequentes de Dilma Rousseff, que o assunto passará a ter ainda
mais visibilidade. A ponto, inclusive, de ser um dos principais
fatores do debate eleitoral. O pleito de 2018 teve a política externa
como pilar, tendo sido decidido em favor da desconstrução de
parcela significativa do que havia sido erigido pelo Partido dos
Trabalhadores (PT).
É nesse bojo que o governo Bolsonaro está inserido. Não
apenas na plataforma de campanha, mas também na prática posterior
à posse, a ruptura com a política anterior era clara e manifesta. Não

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