Rediscutindo o diálogo republicano

AutorClarissa Franzoi Dri
Páginas265 - 267

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A1 obra em tela é fruto de conversas mantidas durante o ano de 2000 entre dois notórios pensadores italianos, que discutem temas de suma importância de maneira natural e envolvente. Os debates não se apegam a conceitos e conclusões, do que resulta um texto livre, despido do compromisso de explicar ou esgotar um ponto e procurando somente trazer à tona grandes questionamentos sobre república, democracia, cidadania e religião, entre outros.

Ao iniciar comentando sobre república e virtude, Viroli diferencia republicanismo de democracia. Esta ocorreria quando um povo obedece somente a normas estabelecidas por ele próprio, enquanto aquele significaria a ausência de dependência da vontade arbitrária de um homem. A república, por sua vez, consistiria em uma forma ideal de Estado, baseada na virtude dos cidadãos e no amor pela pátria. Bobbio coloca que, em se tratando de política, é preciso ser realista e observar a história: nenhum Estado real se sustenta so-Page 266bre a virtude, mas é regulado por uma constituição e precisa recorrer à força exatamente porque os cidadãos, em geral, não são virtuosos. Boas leis e bons costumes indubitavelmente contribuem para a sobrevivência da república.

Comentando o patriotismo, Bobbio e Viroli observam que ele freqüentemente enseja virtude civil e não-corrupção, embora tenha sido aproveitado pela tirania em inúmeros episódios. Sobre a liberdade, os republicanos a definem como a ausência de interferência e de coerção. O oposto de dependência, contudo, não seria apenas a liberdade do estado de natureza, mas a dependência a leis não-arbitrárias que valem para todos. Liberdade democrática, portanto, significa autonomia conforme a lei.

Em discussão a respeito de direitos e deveres, Bobbio afirma que a reivindicação de direitos parece primordial porque historicamente os governos não os reconhecem. Lembra, entretanto, que não existem direitos sem deveres. O dever fundamental dos cidadãos seria respeitar e tolerar os demais, enquanto aos governantes caberia a obrigação de buscar o bem comum.

Os deveres podem ser jurídicos ou morais. Os primeiros têm como parâmetro o Estado; os segundos, a consciência individual. Embora a educação seja indispensável nesse último caso, a fé e o dogma ainda subsistem como pontos de referência moral e sustentam as democracias, na ausência de um príncipe que exerça o temor e o terror entre os súditos. Fazse importante ressaltar que a caridade, cristã ou não, é incompatível com a...

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