Reflexão: Sobre o exílio de nós mesmos

AutorRômulo de Andrade Moreira
CargoAdvogado
Páginas15-18
TRIBUNA LIVRE
15
REVISTA BONIJURIS I ANO 32 I EDIÇÃO 665 I AGO/SET 2020
cer II, I].
São Paulo: Boitempo, 2015.
4. WOLKMER, Antonio Carlos.
Pluralismo jurídi-
co:
Fundamentos de uma nova cultura do direi-
to. 3 ed. São Paulo: Alfa Omega, 2001.
5. BRASIL.
Constituição (1988).
Constituição
da República Federativa do Brasil: promulgada
em 5 de outubro de 1988.
6. BRASIL. Lei 6.001, de 19 de dezembro de
1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. In:
Diá-
rio Ocial da República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 21 dec. 1973.
7. KINSELLA, Stephan (2013).
Legislação
e direito em uma sociedade livre.
Disponí-
vel em: <http://www.mises.org.br/Article.
aspx?id=1570>. Acesso em: 6 maio 2020.
8. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo.
A incons-
tância da alma selvagem e outros ensaios de
antropologia.
São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
p. 552.
Rômulo de Andrade MoreiraADVOGADO
SOBRE O EXÍLIO DE NÓS MESMOS
No outono de 1987, o poeta
e dissidente russo Jose-
ph Brodsky escreveu, em
um espaço curtíssimo de
tempo, dois discursos que fo-
ram reunidos em um pequeno
livro, cujo título, Sobre o Exílio,
diz muito de nós mesmos, seja
porque trata do exílio (espe-
cialmente a primeira confe-
rência: “A condição chamada
exílio”), seja porque foram
escritos no exílio (ambos)1. O
primeiro ensaio foi feito para
ser lido em uma palestra em
Viena, na Wheatland Founda-
tion, e o segundo foi o discurso
que Brodsky pronunciou em
Estocolmo, na Academia Sue-
ca, quando recebeu o Prêmio
Nobel de Literatura, naquele
mesmo ano.
O primeiro texto do livro,
“A condição chamada exílio”,
é uma bela reflexão acerca da
situação do autor, que se en-
contra longe de sua terra e,
nada obstante ter sido aparen-
temente escrito desde aquele
ponto de vista, é possível, no
decorrer da leitura, vermo-nos
ali sendo retratados, de uma
maneira ou de outra, ainda
que se tratasse de uma experi-
ência muito pessoal pela qual
passava o escritor. Na verdade,
é preciso que se veja o “exílio
lá desenhado como (também)
uma categoria metasica, con-
forme, aliás, consta da apre-
sentação da obra.
Brodsky, logo no início, ob-
serva que no século 20 “o lugar-
-comum foi o desenraizamento
e a inadequação”, comparando
o escriba exilado com o refu-
giado político, ou mesmo com
qualquer outro trabalhador
migrante, identificando neles
um traço comum: o fato de es-
tarem sempre “fugindo do pior
para o melhor, pois só é pos-
sível se exilar de uma tirania
numa democracia”.
A atualidade desta afirma-
ção vê-se com a tragédia que
representa a crise de refu-
giados na Europa Ocidental,
um drama humanitário vivi-
do por centenas de milhares
de seres humanos, oriundos
principalmente da África e do
Oriente Médio, que buscam
desesperadamente (e muitos,
em vão) chegar em um lugar
seguro.
Ora, diz ele, se por um lado
isso é bom (sair de uma tirania
para uma democracia, passan-
do a gozar de uma relativa se-
gurança sica), por outro, e sob
diferente aspecto, este novo
ambiente acaba por torná-lo
“socialmente insignificante”, o
que representa, no caso espe-
cífico do nosso personagem,
um sofrimento absurdo, pois,
como ele próprio admite (a
partir de seu lugar de fala),
a busca de significância, muitas
vezes, constitui o resto da carreira
de um escritor, exilado ou não, pois
um escritor satisfeito com a insigni-
ficância, a indiferença e o anonima-
to é coisa tão rara de se ver quanto
um papagaio no Polo Norte.
Brodsky compara o escriba
exilado com o refugiado
político. Só é possível
seexilar de uma tirania
numa democracia
Rev-Bonijuris665.indb 15 15/07/2020 11:34:20

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