Subjetividades como objetos de consumo

AutorZygmunt Bauman
CargoUniversidades de Leeds e de Varsóvia
Páginas1-4
P A N Ó P T I C A
Panóptica, Vitória, vol. 8, n. 1 (n. 25), 2013
ISSN 1980-775
SUBJETIVIDADES1 COMO OBJETOS DE CONSUMO2
Universidades de Leeds e de Varsóvia
1. INTRODUÇÃO
Em sua, até agora, maior das distopias tentando desmascarar e registrar os demônios
interiores de nossa sociedade desregularizada, individualizada, fragmentada, episódica,
privatizada de consumidores solitários, em “A possibilidade de uma ilha”, de Michel
Houellebecq, as palavras finais escritas por Daniel 25º, o último (por sua própria escolha) de
uma longa (infinita em sua intenção original) série de Daniéis clonados – as frases serviram
para explicar sua decisão de optar por deixar de reiterar sua monótona (leia-se: livre de
contingências e incertezas) e maçante (maçante porque monótona) maneira de ser no mundo
– são: Talvez eu tenha 60 anos restantes para viver; mais de vinte mil dias que serão
idênticos. Eu evitaria pensar, assim como evitaria sofrer. As armadilhas da vida ficaram bem
para trás em relação a mim; agora, entrei em um espaço tranquilo do qual apenas um
processo letal poderia me separar... (...) Por muito tempo banhei-me sob o sol e a luz das
estrelas, e nada experimentei além de uma sensação levemente obscura e nutritiva... ... Eu
era, já não era mais. A vida era real.
Em algum ponto entre essas meditações, Daniel 25º conclui: “Felicidade não era um
horizonte possível. O mundo o havia traído”. Na interpretação de Houellebecq, este seria o
fim. Mas o que seria o início? Como tudo começou?
1 Nota do tradutor: O título do artigo, em inglês, é de difícil tradução para o português (Selves as objects of consuption).
Inicialmente pensou-se em usar a palavra “pessoas” em lugar de selves. Em um segundo momento, utilizou-se
“subjetividades”. Também foi cogitado usar “nós próprios”. No entanto, após a leitura de todo o texto, preferiu-se
usar o termo “eus” (plural não existente inventado de eu, primeira pessoa do singular) mantendo um “erro”
gramatical que Bauman propositadamente utiliza em seu título original.
2 Tradução: Carolina Sanmiguel Barros, Victor Augusto Moura Castro e Lucca Cascelli Sodré, graduandos em direito
na Faculdade de Direito de Vitória (FDV); Revisão: Maurício Seraphim Vaz, mestre em Direitos e Garantias
Fundamentais pela FDV Faculdade de Direito de Vitória.

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