The Philosophy of Liberation face the post-modernity and post-colonial and subalterns studies/A Filosofia da Libertacao frente aos estudos pos-coloniais, subalternos e a pos-modernidade.

AutorDussel, Enrique
CargoResena de libro

I--introducao

Os marcos teoricos usados e construidos no final dos anos noventa, tanto na America Latina como entre os latino-americanistas nos Estados Unidos, que sao filosofos, criticos literarios, historiadores, sociologos, antropologos, etc., foram diversificados e tem adquirido complexidade, tornando necessario trazer uma topografia das posicoes para poder continuar inteirando-se do debate. Assim, tem mudado a tal ponto as perspectivas, categorias e os planos de profundidade da "localizacao" dos sujeitos do discurso teorico-interpretativo e critico, que ja nao e facil iniciar no estudo, e muito menos continuar o debate sobre o latino-americano. Em meio a tantas arvores o bosque ha tempos ja perdeu sua visibilidade. O antigo latino americanismo, "latino americanismo I", parece um objeto de museu; devendo ser, porem, a referencia obrigatoria em toda a discussao. Vejamos rapidamente a dita topografia do debate, em consideracao a que trata somente de "uma" interpretacao, mas vale como um grao de areia para dar talvez algo de clareza a discussao.

II--O "Pensamento Latinoamericano": desde o final da Segunda Guerra europeia-norte americana

Em meados dos anos quarenta, quando chegou ao fim a Guerra Europeia-norte americana, um grupo de jovens filosofos tais como Leopoldo Zea no Mexico, Arturo Ardao no Uruguai ou Francisco Romero na Argentina, reiniciaram o debate sobre a problematica de "Nuestra" America Latina, com havia acontecido no seculo XIX com Juan Bautista Alberdi, Andres Bello ou Jose Marti, ou na primeira parte do seculo XX, com Mariategui, Vasconcelos, Samuel Ramos e tantos outros. Frente o "pan-americanismo" norte americano levantava-se uma interpretacao da America Latina que tampouco queria se confundir com o "Iberoamericanismo" do franquismo espanhol.

Os membros de uma filosofia academica "institucionalizada" na etapa anterior a Guerra--na periodizacao de Francisco Romero--, haviam comecado a travar contatos em todo o continente latino-americano. Tratava-se de conhecer a "historia" do pensamento na regiao, esquecido de tanto observar somente a Europa e aos Estados Unidos. "America en la historia" de Leopoldo Zea, publicado em 1957, pela editora Fondo de Cultura Economica (Mexico), e um exemplo desta epoca.

O marco teorico desta geracao se nutria de filosofos tais como Husserl, Heidegger, Ortega y Gasset, Sartre, ou historiadores como Arnold Toynbee. Retornava-se aos herois da Emancipacao, ao comeco do seculo XIX (nao se tentava recuperar a epoca colonial) para repensar seu ideal libertario ante um Estados Unidos desde 1945 hegemonico do Ocidente, no comeco da Guerra Fria.

Por sua parte, na Africa, um Placide Tempels publicava, em 1949, La Philosophie bantoue, na editoral Presence Africaine de Paris. Na Asia e na India, mais particularmente, o pensamento de Gandhi havia redescoberto um "pensamento hindu" como motor emancipador da ex-colonia britanica.

Nesta etapa culmina em torno a 1968, ano de grandes movimentos intelectuais e estudantis que se iniciam com a Revolucao Cultural na China, em 1966, e abarcam tanto o maio frances como o protesto contra a Guerra do Vietna em Berkeley, Estados Unidos, o outubro em Tlatelolco no Mexico e o Cordobazo argentino em 1969.

III--Modernidade/Pos-Modernidade na Europa e Estados Unidos

Na decada de setenta mudou o "ambiente" europeu da filosofia. As revoltas estudantis esgotaram uma certa esquerda que abandona, em parte, a tradicao marxista, Castoriadis, enquanto que outros foram burocratizados, construindo o marxismo standard, incluindo o classico althusseriano. De esta forma surge lentamente uma certa critica ao universalismo, fundacional ou dogmatico, desde posicoes nao tradicionais. Michel Foucault, protagonista no Nanterre de 1968, critica as posicoes metafisicas e a-historicas do marxismo standard, ou seja, o proletariado como "sujeito messianico", o curso necessario e progressivo da historia, o poder macroestrutural como o unico existente, etc. (1). Na Franca, Gilies Deleuze (2), Jacques Derrida (3) o Jean Francois Lyotard, na Italia Gianni Vattimo (4) (com posicoes muito contrarias), se levantam contra a "razao moderna", buscada sob a categoria de totalidade por Emmanuel Levinas em 1961 (em Totalidade e Infinito, publicado na colecao fenomenologica de Nijhoff Nimega). A obra de Lyotard, A condicao pos-moderna, de 1979, publicada por Minuit, em Paris, e como um manifesto. Na terceira linha da Introducao nos diz que "o termo esta em uso no continente americano", e o define:

Designa o estado da cultura depois das transformacoes que afetaram as regras do jogo da ciencia, da literatura e das artes a partir do seculo XIX. Aqui se situam estas transformacoes com relacao a crises dos relatos. (5) Desde Heidegger, com sua critica da subjetividade do sujeito como superacao da ontologia da modernidade (6), e ainda mais desde Nietzsche, com sua critica ao sujeito, a ordem de valores vigentes, a verdade, a metafisica, o movimento "pos-moderno" nao so se opoem ao marxismo standard, mas mostra a vertente universalista como propria do terror e da violencia da racionalidade moderna. Frente a unicidade do ser dominante se levanta a differance, a multiplicidade, a pluralidade, a fragmentariedade, a desconstrucao de todo macro relato.

Nos Estados Unidos, a obra posterior de Fredric Jameson, Postmodernism or the Cultural Logico of Late Capitalism, publicado em 1991 por Duke University, e um novo momento do processo. Richard Rorty e um cetico antifundacionalista, que poderia ser inscrito na tradicao pos-moderna, mas colateralmente.

Na America Latina, a recepcao do movimento pos-moderno se da ao final dos anos oitenta. Na obra de Hermann Herlinghaus e Monika Walter, Posmodernidad en la periferia (7), ou na obra compilada por John Beverly, Jose Oviedo y Michel Aronna, The Postmodernism Debate in Latin America (8), podem ver-se trabalhos muito recentes; os mais antigos da metade dos oitenta. Em geral, significa uma geracao que experimenta certo "desencanto" proprio do final de uma epoca na America Latina (nao somente do populismo, mas de toda a esperanca que despertou a Revolucao cubana de 1959, confrontada com a caida do socialismo real desde 1989). Tem uma atitude de enfrentar positivamente a hibridez cultural de uma modernidade periferica que ja nao cre em mudancas utopicas; desejam evadir-se dos dualismos simplificados de centro-periferia, atraso-progresso, tradicao-modernidade, dominacao-libertacao e transitar pela pluralidade heterogenea, fragmentaria, diferencial, de uma cultura transnacional urbana. Agora sao os antropologos sociais (9) ou os criticos literarios os que tem produzido uma nova interpretacao do latino-americano (10).

Penso que a obra de Santiago Castro-Gomez e de sumo interesse, ja que representa um exemplo de uma filosofia pos-moderna desde America Latina (11). Sua critica e enderecada contra o pensamento progressista latino-americano; contra Adolfo Sanchez Vasquez (12), Franz Hinkelammert (13), Pablo Guadarrama, Arturo Roig (14), Leopoldo Zea (15), Augusto Salazar Bondy (16), etc. Em todos os casos--e no meu proprio--sua argumentacao e sempre semelhante: estes filosofos (para Castro-Gomez) sob a pretensao de criticar a Modernidade, ao nao ter consciencia critica da "localizacao" de seu proprio discurso, por nao ter possuido as ferramentas foucaultianas de uma arqueologia epistemologica que houvesse permitido reconstruir geneticamente o marco categorial moderno, de uma ou outra maneira voltam a cair na Modernidade (se alguma vez sairam dela). Falar de sujeito, de historia, a dominacao, a dependencia externa, as classes sociais oprimidas, do papel das massas populares, de categorias tais como totalidade, exterioridade, libertacao, esperanca, seria cair novamente em um momento que nao assume de forma seria o "desencanto politico" no qual a cultura atual se encontra radicada. Falar entao de macro instituicoes como o Estado, a nacao, o povo, o das narrativas epicas heroicas seria ter perdido o sentido do micro, heterogeneo, plural, hibrido, complexo. De uma maneira pessoal, entre outras criticas, se inscreve:

O outro da totalidade e o pobre, o oprimido, o que, por encontrar-se na exterioridade do sistema, se converte na fonte unica de renovacao espiritual. Ali na exterioridade, no ethos do povo oprimido, se vivem outros valores muito diferentes aos prevalentes no centro ... Com o qual incorre Dussel na segunda reducao: a de converter aos pobres em uma especie de sujeito transcendental, a partir da qual a historia latinoamericana adquiriria sentido. Aqui ja nos encontramos nas antipodas da pos-modernidade, pois o que Dussel procura nao e descentralizar ao sujeito iluminista, mas substitui-lo por outro sujeito absoluto (17). O que nao adverte Castro-Gomez e que Foucault critica certas formas de sujeito, mas valoriza outras; critica certas maneiras de historiar desde leis a priori necessarias, mas revaloriza uma historia genetico epistemologica. Frequentemente Castro-Gomez cai no fetichismo das formulas, e nao adverte que e necessaria uma certa critica do sujeito para reconstruir uma visao mais profunda do mesmo; que se requer criticar uma simplificacao das causas externas do subdesenvolvimento latino-americano para integra-lo a uma interpretacao mais compreensiva; que e necessario nao descartar as micro-instituicoes (esquecidas pelas descricoes macro) para melhor articula-las as macro instituicoes; que o Poder se constitui de forma mutua e relacional entre os sujeito sociais, mas nao por isso deixa de existir o poder do Estado ou de uma nacao hegemonica (como hoje e o caso dos Estados Unidos). Se critica uma certa unilateralidade com outra de sentido contrario, e se cai naquilo que se critica. Desde uma critica panoptica pos-moderna repete a pretensao universal da Modernidade; ou seja, "a pos-modernidade--nos diz Eduardo Mendieta--perpetua a intencao hegemonica da modernidade e da Cristandade ao negar-lhe a outros povos a possibilidade de nomear a...

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