Trágica Despedida do Júri

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas166-168

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João da Costa Pinto ganhou a morte sonhada por muitos advogados do Tribunal do Júri - escreveu Alfredo Tranjan.

"O promotor era Francisco Baldessarini. Costa Pinto desenvolvia a defesa: "Vejam, senhores ju..." A palavra não se completou.

Levou as duas mãos ao peito. Conseguiu respirar.

Da careta de dor saiu: "Jurados"

Estava tendo um ataque de angina. Antes, sofrera outros. Foi suspensa a sessão.

O promotor e o juiz-presidente Ari Franco eram seus amigos. Conheciam-lhe o mal. Passaria, como das outras vezes... Passou.

Costa Pinto retorna à tribuna, donde defendia gratuitamente um réu miserável.

Recomeçou no "Vejam, senhores jurados" e continuou por mais poucos minutos.

De repente, nova careta de sofrimento. Então, caiu sentado em sua cadeira, as mãos crispadas apertando os autos do processo, a cabeça tombada na tribuna.

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Da assistência, acorreu seu compadre, o advogado Augusto da Costa Magalhães, que o removeu, ainda vivo, para o Hospital do Pronto Socorro (hoje Souza Aguiar), onde logo chegaram dona Maria, sua esposa, e as filhas Zilda e Cacilda.

Costa Pinto ainda falou com elas. Entregou a Cacilda seus documentos, um anel e o chapéu gelot.

Pressentia que aquela era a sua última crise de angina.6

Os médicos foram vencidos.

A reportagem permanente do hospital avisou os jornais. As emissoras de radio, em edições extraordinárias, transmitiram a notícia.

Ouviram-na, em suas salas no Tribunal do Júri, Ari Franco e Francisco Baldessarini.

Depois de dona Maria, foram os primeiros a chegar. Entraram chorando. Baldessarini, o adversário, convulsivamente.

Tinha o rábula genial 48 anos. Eram seis da tarde de 30 de março de 1942.

De longe, muito longe, vinham sons de sinos. As Ave-Marias? O Ângelus? Talvez...

Ou seriam os sinos a cantar, desde as torres do Olimpo, a saudar um novo deus que vinha da Terra?"

O advogado carioca Luiz Guilherme Vieira evocou que "desde menino me interesso pelos caminhos e descaminhos da pouca compreendida advocacia criminal.

Já, então, escutava, atentamente, as histórias que me eram contadas pela doce Dodô, filha de João da Costa Pinto, rábula do mais alto coturno, líder dos estivadores na origem, magnífico advogado por fim, que, pela histórica falta de memória dos brasileiros...

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