Vargas, JK e a barganha nacionalista

AutorGlauber Cardoso Carvalho
Páginas157-172
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Capítulo 09
VARGAS, JK E A BARGANHA NACIONALISTA
Glauber Cardoso Carvalho1
Introdução
Os governos de Getúlio Vargas (1951-1954), João Café Filho
(1954-1955) e Juscelino Kubitschek (1956-1960) estão inseridos no
momento brasileiro de consolidação da prática democrática, assim
como na esfera internacional de aprofundamento do acirramento da
bipolaridade característica da Guerra Fria. Nesse contexto, as opções
disponíveis para a promoção do desenvolvimento e para a própria
política externa brasileira (PEB) passaram tanto pelo arranjo de
forças contraditórias nas diversas camadas de poder, que envolviam
a gestão de um país recortado por crescente pressão política,
econômica e social, quanto pela necessidade de promoção de um
crescimento autônomo, para o qual o jogo internacional envolvia
uma barganha de posições, de privilégios e concessões.
Desenvolvimento, autonomia e segurança estavam inseridos
definitivamente nas agendas nacionais e internacionais. Destas, a
primeira era marcada amplamente pela disputa de poder partidária
envolvendo as elites do executivo e do legislativo, ao que se somava
a crescente manifestação da opinião pública. A segunda produzia
uma política externa que conjugaria as necessidades de abrir espaços
para a busca de financiamentos, ao mesmo tempo em que promovia
1 Doutor e Mestre em Economia Política Internacional - UFRJ. Professor de
Relações Internacionais e Economia - UNESA. Editor da Revista Diálogos
Internacionais. Ex-Coordenador Executivo do Centro Internacional Celso Furtado.
E-mail: glauber ccarvalho@gmail.com
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a valorização de ativos nacionais e do planejamento econômico.
Seus objetivos eram a construção de um grande Estado modernizado
em suas estruturas, industrializado em sua economia e com uma
grande representatividade e prestígio diplomático.
Tudo isso envolveu grande esforço de organização de um
Brasil em transformação. Passou por sacrifícios pessoais, cujo ato do
suicídio rendeu para Vargas sua inscrição definitiva na história. Foi
marcada, na sequência, pela virada liberal do interregno da gestão
Café Filho. Por fim, proporcionou uma gigantesca mudança,
singularizada tanto na criação, construção e inauguração de Brasília,
em 1960, quanto na ultrapassagem da agricultura pela indústria na
determinação do PIB nacional ao longo deste período.
1. Getúlio Vargas (1951-1954): nacionalismo e pragmatismo
“O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser
candidato à presidência. Candidato, não deve ser
eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado,
devemos recorrer à revolução para impedi-lo de
governar. [...] O sr. Getúlio Vargas já teve tudo
o que esperar do Brasil e muito mais. Deixe-o
agora em paz, se quiser ter paz. Pois, se quiser
guerra, ele a terá também e não poderá se queixar
dos resultados.” (Carlos Lacerda, 1950).
A vitória de Getúlio Vargas nas eleições de 1950 fez parte
de um conjunto de alianças montadas ao longo do governo Dutra.
Reunindo as forças políticas dos Estados, ao estilo populista,
congregou o Partido Social Progressista (PSP); manobrou parte do
Partido Social Democrático (PSD); e ficou ao lado dos trabalhadores
reunidos pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). (SKIDMORE,
2003). Ao mesmo tempo em que sofreu a oposição de parte da
opinião pública, cristalizada no jornalista Carlos Lacerda, diretor da
Tribuna da Imprensa, reproduzido na epígrafe, Getúlio manterá a

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