Vargas e a reafirmação do americanismo em um mundo em crise

AutorMário Schettino Valente e Enrique Carlos Natalino
Páginas93-108
93
Capítulo 05
VARGAS E A REAFIRMAÇÃO DO AMERICANISMO EM
UM MUNDO EM CRISE
Mario Schettino Valente1
Enrique Carlos Natalino2
1. Introdução
A Era Vargas estende-se de 1930 a 1945 e abarca momentos
dramáticos da história mundial e brasileira. Em relação ao mundo,
as contradições resultantes da I Guerra Mundial têm como marcos a
crise econômica de 1929, a ascensão da política de massas e as
respostas autoritárias aos graves problemas econômicos, além da II
Guerra Mundial (CERVO, 2008; HOBSBAWM, 2014). O Brasil
não passa intacto desse contexto internacional. O esgotamento da I
República frente às transformações socioeconômicas das décadas
iniciais do século XX irrompe na Revolução de 1930, que é seguida
por disputas políticas em torno da estabilização do regime, que
ocasionam o regime autoritário do Estado Novo (GOMES; 2019;
PANDOLFI, 2019).
A política externa da Era Vargas modifica-se ao longo destes
quinze anos conforme os cenários externo e interno (CERVO;
1 Doutor e Mestre em Ciência Política (UFMG). Bacharel em Direito (UFMG).
Professor de Relações Internacionais - Ibmec/MG e no Departamento de Ciências
Econômicas (UFMG). Foi Pesquisador Visitante na Carleton University, no
Canadá. E-mail: mario-s-valente@ufmg.br
2 Doutor em Ciência Política (UFMG). Mestre em Administração Pública (FJP).
Bacharel em Direito (USP). Pesquisador em residência pós-doutor al (CEBRAP).
Foi pesquisador-visitante no German Institute of Global and Area Studies (GIGA),
na Alemanha. E-mail: enrique.na talino@gmail.com
94
BUENO, 2014; RICÚPERO, 2017; KOIFMAN, 2019). Este
capítulo trata da política externa do Brasil (PEB) nos anos iniciais da
era Vargas, entre 1930 e 1935. Para tanto, este capítulo utiliza-se do
método de estudo de caso, a partir da noção de sistema de política
externa, sintetizada por Clarke (2000), e adaptada e atualizada por
Mesquita (2014) para a análise da PEB.
O sistema de política externa é uma estrutura de análise para
compreender os diversos componentes do processo decisório desta
política (MESQUITA, 2014). Esses componentes são os contextos
político e econômico externo e interno, as dinâmicas e preferências
da elite política nacional, as pressões sociais, e as questões
institucionais que afetam a formulação e a implementação da política
externa em suas áreas temáticas, bem como a forma em que essas
políticas são implementadas nos níveis internacional, regional e
nacional. Ressalta-se que a noção de sistema determina que a análise
deve considerar a totalidade desses componentes e a interação entre
eles (Mesquita, 2014).
Nesse sentido, este capítulo organiza-se em seções dedicadas
a um ou mais componentes supramencionados para, ao fim, tratar da
política externa implementada. Assim, as seguintes seções tratam,
respectivamente: da conjuntura externa e interna; dos principais
atores nacionais no processo decisório da PEB e suas preferências;
da política externa implementada e seus resultados. Por fim,
procedem-se as considerações finais da política externa marcada
pela continuidade do período anterior, que reafirma o americanismo
de grande parte da I República, mas que mostra sinais das mudanças
na ação externa do Estado brasileiro que viriam nos anos seguintes.
2. Os desafios externos e internos do novo regime
A primeira metade da década de 1930 marca-se pelo
aprofundamento de instabilidades no sistema internacional
construído em Versalhes em 1919. Na economia, a crise de 1929
impacta distintamente as sociedades pelo mundo, desencadeia o

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT