Vigilância e Capital na Era da Informação: elementos para a crítica ao conceito decapitalismo de vigilância

AutorRafael Silva dos Santos
Páginas13-33
Rafael Silva dos Santos • 13
Vigilância e Capital na Era da Informação: elementos
para a crítica ao conceito decapitalismo de vigilância
Rafael Silva dos Santos
1- INTRODUÇÃO
Capitalismo de Vigilância é, de modo indubitável, um dos
grandes debates de nossos tempos. Quando a Netix lançou o docu-
mentário o Dilema das Redes os olhos do mundo se voltaram para
essa temática. Esse texto tem o modesto objetivo de apresentar ele-
mentos para a crítica ao conceito de capitalismo de vigilância.
O principal achado na persecução desse objetivo foi identi-
car alguns dos movimentos de rupturas e continuidades proporcio-
nados pela ampliação do uso de ferramentas digitais.
Apesar da novidade do tema já há uma vasta literatura de-
batendo os efeitos s ociais da vigilância na atualidade. É consensual
que as novas ferramentas digitais têm gerado grandes impactos na
sociabilidade do capital. A questão que se coloca é o grau de pro-
fundidade e amplitude desses impactos, e aqui se pretende indicar
elementos que possam contribuir para a melhor compreensão da
abrangência desse fenômeno. Para tanto, procedeu-se a uma breve
e modesta revisão da literatura e uma análise imanente dos textos.
Já no item 2 desse texto objetivou-se expor aquilo que, por
vezes, é indicado como sendo um elemento do capitalismo de vi-
gilância, mas é próprio da dinâmica do capital, e dela não pode se
separar.
O item seguinte exp ôs a correlação do desenvolvimento da
tecnologia da informação (TI) e da guerra nos Estados Unidos, sen-
do divido em 3 subitens, desde um Complexo industrial-militar-a-
cadêmico que gestou e desenvolveu a TI, passando pelo seu emprego
na guerra de classes e, por m, sua empregabilidade no colonialismo.
Não se pode perder de vista as rupturas e continuidades, sob
pena de se encontrar o diagnóstico errado para os problemas pos-
tos, e com isso, se propor ações insucientes. Aqui se defende que
as contradições devem ser tomadas pela sua raiz, e nesse sentido, é
imprescindível uma crítica radical ao capital.
14 • Direito & Tecnologias - Capítulo 1
2 - CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA DO SÉCULO XXI E OS FUNDAMENTOS DO
PRÓPRIO CAPITAL.
Primeiramente, cabe questionar aqui se essas tecnologias
têm gerado distorções na sociedade capitalista ou se, elas têm, de
outro modo, aprimorado a p ersecução dos objetivos da sociedade
capitalista. Segundo, um outro aspecto importante que vem sendo
colocado no bojo deste debate é se a troca de dados teria posto m à
centralidade do trabalho. Trata-se de duas questões da mais absoluta
importância para os nossos tempos, e não se pretende aqui esgotar
o debate, mas oferecer pistas para uma futura investigação de maior
fôlego.
Na esteira desse debate a Professora Shoshana Zubo expõe
que
For 19 years, private companies practicing an unprecedented
economic logic that I call surveillance capitalism have hijacked
the Internet and its digital technologies. Invented at Google be-
ginning in 2000, this new economics covertly claims private hu-
man experience as free raw material for translation into beha-
vioral data. Some data are used to improve services, but the
rest are turned into computational products that predict your
behavior. ese predictions are traded in a new futures market,
where surveillance capitalists sell certainty to businesses de-
termined to know what we will do next. is logic was rst
applied to nding which ads online will attract our interest, but
similar practices now reside in nearly every sector — insuran-
ce, retail, health, education, nance and more — where per-
sonal experience is secretly captured and computed for beha-
vioral predictions. By now it is no exaggeration to say that the
Internet is owned and operated by private surveillance capital1.
Ou seja, para Zubo, desde 2000, algo novo vem ocorrendo
na ordem do capital que é o que ela vai chamar de Capitalismo de
Vigilância, conforme tradução feita pela editora Intrínseca no Bra-
sil. Como se nota das palavras da autora, os capitalistas de vigi lân-
cia formam bancos de dados com o objetivo de venderem “certeza”
1
ZUBOFF, Shoshana. e Surveillance reat Is Not What Orwell Imagi-
ned. 2019.

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