O barão do Rio Branco e os pilares da diplomacia brasileira moderna

AutorCelso Thompson
Páginas55-73
55
Capítulo 03
O BARÃO DO RIO BRANCO E OS PILARES DA
DIPLOMACIA BRASILEIRA MODERNA
Celso Thompson1
Introdução
O período de dez anos (1902-1912) em que o Barão do Rio
Branco esteve à frente do ministério das relações exteriores foi
inequivocamente associado a seu estilo de negociador e estudioso
das questões pertinentes à demarcação dos limites da República
brasileira, ainda que sua atuação transcenda esse patamar. Rio
Branco foi, sucessivamente, Chanceler de quatro governos
republicanos de Rodrigues Alves ao Marechal Hermes da Fonseca,
quando faleceu.
Por ocasião de sua nomeação, Rio Branco exercia a condição
de embaixador junto ao Império Alemão. Essa embaixada foi a única
ocupada por ele em sua carreira, iniciada no governo imperial,
embora o Barão, título com que fora agraciado em 1888, venha a se
tornar um dos heróis da pátria precisamente no período republicano2.
Seu prestígio vinha de uma série importante de êxitos
diplomáticos a serviço do Estado brasileiro que consolidava suas
fronteiras. Com efeito, verificamos o resultado profícuo das gestões
1 Doutor em História Política - UERJ. Mestre em História Antiga e Medieval -
UFRJ. Graduad o em História - UERJ). Professor aposentado da UERJ. E-mail:
celsothompson54@gmail.com
2 A formação de Rio Branco considerou o estudo da História e Geografia,
conhecimentos importantes para sua atividade diplomática, seguindo o exemplo
do pai, o Visconde do Rio Branco (1819-1880), político e diplomata do Império,
com importante atuação na demarcação da fronteira com o Paraguai.
56
diplomáticas de Rio Branco incorporando ao nosso território regiões
em disputa como a área de Palmas com a República Argentina, 1895,
e a determinação de onde confinavam os limites entre o Brasil e a
França na área do Amapá, 1899. A desocupação da ilha da Trindade
pelos ingleses, 1895, embora contemporânea de sua atuação
diplomática, teve solução distinta3.
Passemos, portanto, a análise da atuação do chanceler que,
nesta condição, conquanto fosse respeitado pela imensa erudição e
argúcia, não era necessariamente uma unanimidade entre a opinião
pública.
“O Barão empenhou-se na política de tornar o
Brasil um país respeitado internacionalmente,
que atraísse estrangeiros e negócios vantajosos
(…). Foi o articulador da Exposição Nacional de
1908, orientada para atrair turistas e capitais
estrangeiros. [A exposição] custara caro aos
cofres públicos e, atribuem ao seu assessor,
Pecegueiro do Amaral, o uso corrente da
expressão ‘Dinheiro haja, Sr. Barão’. O Barão
era criticado, além de tudo, por gastos excessivos
em festividades e banquetes diplomáticos que
promovia para autoridades estrangeiras.”
(PORTO, 2012, p. 86)
1. O Mundo em que Rio Branco Atuou à Frente da
Chancelaria
José Maria da Silva Paranhos Júnior iniciou sua longa
carreira como Cônsul em Liverpool4, 1876, onde permaneceu vários
anos. A Europa, em que pese a ascensão da potência norte-americana
3 “O governo brasileiro não quis aceitar arbitra mento em virtude da convicção do
direito líquido e certo sobre Trindade, servindo-se da intermediação de Portugal.”
(BARROS, 2007, p. 63)
4 Liverpool era um dos p ortos mais importantes para as exportações b rasileiras
naquela época. Por lá chegavam à Inglaterra importantes carregamentos de café,
açúcar e algodão.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT