A política externa entre a 1a Guerra Mundial e a crise de 1929

AutorSolange Pastana de Góes e Verônica Moreira dos Santos Pires
Páginas75-90
75
Capítulo 04
A POLÍTICA EXTERNA ENTRE A
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E O CRASH
DE 1929
Solange Pastana de Góes1
Verônica Moreira dos Santos Pires2
Introdução
De especial importância para a política externa brasileira, o
período que vai da Primeira Guerra Mundial ao crash da Bolsa de
Valores de Nova York em 1929 demarca o recorte temporal do
presente capítulo. Considerando o peso das rupturas ocorridas a
partir da Europa e a instauração da Primeira República no Brasil,
protagonizada por uma elite política diretamente ligada ao setor
agroexportador, interessado na manutenção da posição do Brasil na
ordem econômica liberal vigente, o texto lança luz sobre o lugar do
país no mundo no período em tela.
Destacam-se nas relações internacionais do Brasil, os debates
em torno da participação do país na Guerra, da assinatura do Tratado
de Versalhes, do funcionamento da Liga das Nações e das
alternativas financeiras e comerciais diante do declínio britânico e
da centralidade assumida pelos Estados Unidos.
1 Doutora em Relações Internacionais - PPGRI/UERJ. Prof essora no cur so de
Relações Internacionais - UVA. E-mail: sola nge.goes@uva.br
2 Doutora em História Comparada - PPGHC/UFRJ. Professora e Coordenadora do
curso de Relações Internacionais e Professora do curso de História - UVA. E-mail:
veronica.pir es@uva.br
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1. O Brasil nos anos antecedentes à Primeira Guerra
Mundial
O início do século XX no Brasil foi caracterizado pela prática
da alternância de poderes entre São Paulo e Minas Gerais, chamada
de política "café com leite", sustentada pelos governos civis do
paulista Rodrigues Alves (1902-1906) e do mineiro Afonso Pena
(1906-1910). A oligarquia cafeeira incluía grupos de outros Estados
que se comprometiam com o governo central, obtendo acesso ao
financiamento federal para compra do excedente da produção,
garantindo o preço no mercado internacional, mas sem perder a
autonomia política regional. O equilíbrio de interesses entre a
Presidência da República e os Estados, no entanto, não era simples e
foi posto em xeque em vários momentos.
As disputas políticas na diplomacia pareciam estar blindadas,
em especial, nos primeiros anos da década de 1910, sob a gestão do
Barão do Rio Branco. A morte do ministro, em 1912, contudo,
revelou enormes desafios internos e internacionais para um país que
passava por transformações econômicas e sociais, cuja base era a de
um país exportador de café. Além de elementos políticos e militares
relativos ao panamericanismo, estavam em jogo, ainda, as tensões
referentes às relações econômicas do Brasil com Grã-Bretanha e
EUA e a participação do Brasil no sistema internacional (BUENO,
2003). Lauro Müller, que assumiu o Ministério das Relações
Exteriores (MRE) após o falecimento de Rio Branco, apesar de não
contar com o mesmo prestígio que seu antecessor, administrou
eventos internacionais importantes envolvendo a Europa e o
continente americano. A condução das relações diplomáticas com os
EUA contava, ainda, com outro agente importante, o embaixador em
Washington Domício da Gama, que sustentava uma posição de não
subordinação da política sul-americana à anuência dos Estados
Unidos. Ao longo de 1912 e 1913, as relações com o país norte-

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