A crise dos anos 70 do século 20 e a ruptura da tendência socializante das sociedades capitalistas:algumas observações sobre a ascensão das ideias neoliberais e suas consequências

AutorGilmar Antonio Bedin, Joice Graciele Nielsson
Páginas39-60
39
Revista Direito e Desenvolvimento a. 2, n. 4, julho/dezembro 2011
A CRISE DOS ANOS 70 DO SÉCULO 20 E A RUPTURA DA
TENDÊNCIA SOCIALIZANTE DAS SOCIEDADES
CAPITALISTAS: ALGUMAS OBSERVÕES SOBRE A
ASCENSÃO DAS IDEIAS NEOLIBERAIS E SUAS
CONSEQUÊNCIAS
Gilmar Antonio Bedin*
Joice Graciele Nielsson**
Resumo: O tema deste artigo é a crise dos anos 70 do século 20 e as
consequências que ela produziu na crescente trajetória de configuração
social do Estado e dos direitos humanos no mundo moderno. Nesse
sentido, constatou-se que a crise, mais do que conjuntural, foi um evento
que produziu uma notável virada histórica e gerou um novo ciclo de
mercadorização das atuais sociedades capitalistas e trouxe, como
resultado, a relativização da cultura democrática e da cultura da igualdade.
Palavras-chave: Estado social. Direitos econômicos e sociais. Crise
econômica. Neoliberalismo.
Abstract: The subject of this article is the crisis of the seventies of the
20th century and the consequences it has produced in the growing trend
of the state’s social and the human rights settings in the modern world.
In this sense, it was found that this was more than a transient crisis. It
was an event that produced both a remarkable historical turn and has
produced a new cycle of commodification of contemporary capitalistic
societies. It has also brought, as a consequence, the relativization of
democratic culture and the culture of equality.
Keywords: Social State. Economic and social rights. Economic crisis.
Neoliberalism.
_________________________
* Professor perman ente de Mestrado em Desenvolvimento da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Gra nde do Sul (Unijuí) e professor
colaborador do Curso d e Mestrado em Direito da Universidade Regional
Integrada (URI). É autor de Os Direitos do Homem e o Neoliberalismo e A
Idade Média e o Nascimento do Estado Moderno.
** Graduada em Direito. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
em Desenvolvimento da Unijuí. Bolsista PROSUP/CAPES.
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Revista Direito e Desenvolvimento – a. 2, n.4, julho/dezembro 2011
1 Introdução
As últimas quatro décadas constituem, notadamente quando
vistas em conjunto, um momento singular e muito significativo da
trajetória moderna e da caminhada da humanidade: o período da
emergência de um novo tempo do viver e do refletir humanos. Tempo
da falência dos ambiciosos projetos revolucionários, da fragmentação
das grandes estruturas teóricas, do refluxo das tentativas de
emancipação humana, da banalização da violência, da relativização do
mundo do trabalho, da desorientação ideológica, da hipercomplexidade
dos sistemas sociais, do domínio da alta tecnologia, da comunicação
instantânea, do mundo da informação digital e da realidade virtual.
Tempo de configuração, em poucas palavras, de um novo momento
da humanidade.
Novo momento da humanidade, mas ainda não de definição
duradoura de seu perfil econômico, político e social. Vivemos, nesse
sentido, em um momento de transição entre as chamadas sociedades
modernas e uma nova forma de organização da sociedade,
provisoriamente denominada de pós-moderna1. Essa nova etapa é
melhor ou pior do que as etapas vivenciadas anteriormente? É pior e
melhor, pode-se responder de forma paradoxal. É que, com a sua
emergência, estão dadas tanto as condições mínimas para a hegemonia
absoluta do mundo econômico – para o domínio do horr or
econômico2– e da destruição da espécie humana como estão criados
os pressupostos necessários, ainda que não suficientes, para a
construção de uma sociedade melhor, justa e solidária e de alcance
global3. Essa ambiguidade deve ser compreendida e é uma condição
para o desenho de novas possibilidades.
_________________________
1A caracter ização das sociedades atuais como s ociedad es pós -modernas
significa que ainda não temos condições de designá-las de forma positiva. É,
port anto, uma design ação negati va; d esignação do q ue el as n ão são:
sociedades modern as.
2 A expressão é utilizada por Viviane Forrester em seu livro O horror econômico
(1997).
3 A ambiguidade das atuais sociedades capitalistas é melhor analisada por
Gilmar Antonio Bedin (1999).

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