O discurso na teoria retórica realista

AutorTatiana Aguiar
Páginas73-89
73
CAPÍTULO 4
O DISCURSO NA TEORIA RETÓRICA REALISTA
4.1 O discurso como ação linguística
Utilizar a retórica como instrumento para compreensão
da realidade é partir da premissa, como já dissemos anterior-
mente, de que esta realidade é construída pela linguagem e
que estamos imersos em um mundo formado por sucessivas
ações comunicativas.
Ao mesmo tempo, esta tomada de postura retórica pri-
vilegia o âmbito pragmático da comunicação, em detrimento
dos semântico e sintático, sem evidentemente ignorá-los.
Atualmente, segundo o Prof. Tercio Sampaio F. Junior, a
análise pragmática pode ser vista de três diferentes formas:
como uma teoria dos usos de sinais; como uma análise lin-
guística do diálogo, isto é, como uma investigação do discurso
(Saussure) ou, como entende Habermas e Appel, como apre-
ciação do fenômeno da intersubjetividade comunicativa, a fim
de se determinar as condições transcendentais do diálogo; ou
ainda, como uma teoria da ação locucionária (ato de falar), no
sentido de encarar este último como uma ação social.
74
A SUPERPOSIÇÃO DE DISCURSOS VENCEDORES
Como já dissemos anteriormente, este trabalho, tendo
por objeto a retórica realista, tem forte inclinação pragmáti-
ca, no sentido de buscar analisar linguisticamente o discurso,
enquanto ação comunicativa. Voltar-se para este âmbito da
linguagem é buscar debruçar-se sobre a comunicação huma-
na, a forma como esta altera a realidade, na medida em que a
constrói e a reconstrói infinitas vezes e, ainda, os efeitos que
os discursos e as suas cambiaridades geram nas expectativas
normativas, construídas pelos indivíduos. Porém, sem nos
esquecermos de que o nosso propósito é jurídico e não ex-
clusivamente linguístico, razão pela qual faremos um estudo
jurisdicional ao nível do discurso.
Nesse universo linguístico, é o discurso que põe o siste-
ma comunicacional em movimento, sem ele não há ação co-
municativa, por conseguinte, não há sociedade, pois como
dissemos, em capítulos anteriores, a realidade se constrói
intersubjetivamente.
4.2 Elementos e funções do discurso
Para analisarmos os elementos e funções dos discursos,75
faz-se mister que tenhamos em mente que a compreensão é
condição de possibilidade do discurso. Se este não pode ser
entendido, ensinado e repetido, não há que se falar em situa-
ção comunicativa.
Todo discurso é composto por um orador que propõe a
ação linguística, um ouvinte a quem é dirigido esta ação e o
objeto da discussão, sobre o qual os referidos participantes se
voltam. O orador se apresenta com a pretensão de autorida-
de, a fim de ser compreendido e convencer o ouvinte. Já este
último é alvo da influência do primeiro.
75. Por se tratar de um trabalho de cunho pragmático e jurídico, não pretendemos
analisar as possíveis distinções entre o discurso geral e o jurídico, como o fez Alexy,
trataremos nesse capítulo dos discursos de um modo geral, até porque não identifi-
camos qualquer influência destas distinções no tema que pretendemos abordar.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT