A Família e o Fim

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas124-126

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Em 25 de outubro de 1869, Luiz Gama casou-se com Claudina

Fortunato, de São Paulo, na Freguesia do Brás.

Constou da certidão de nascimento que Luiz Gama era filho de pais incógnitos, legitimando Benedito Gracco Pinto da Gama, de 11 anos de idade, como seu filho, e que, muitos anos mais tarde, foi Coman-dante do Corpo de Bombeiros de São Paulo.

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O testamento do grande rábula abolicionista está transcrito na carta que endereçou ao seu filho, publicado por Pedro Calmon no "Jornal do Comércio", do Rio de Janeiro, de 21 de junho de 1930, vasado nos seguintes termos: "Meu filho. Dize à tua mãe que a ela cabe o rigoroso dever de conservar-se honesta e honrada, que não se atemorize da extrema pobreza que lego-lhe, porque a miséria é o mais brilhante apanágio da virtude.

Tu evita a amizade e as relações dos grandes homens; eles são como o oceano que aproxima-se das costas para corroer os penedos.

Sê republicano, como foi o Homem-Cristo.

Faze-te artista; crê, porém, que o estudo é o melhor entretenimento e o livro o melhor amigo.

Faze-te apóstolo do ensino, desde já. Combate com ardor o Trono, a indigência e a ignorância.

Trabalha por ti e com esforço inquebrantável para que este País em que nascemos, sem rei e sem escravos, se chame Estados Unidos do Brasil.

Sê cristão e filósofo; crê unicamente na autoridade da razão e não te alies jamais à seita alguma religiosa.

Deus revela-se tão somente na razão dos homens, não existe em igreja alguma do mundo.

Há dois livros cuja leitura recomendo-te: a Bíblia Sagrada e a "Vida de Jesus", de Ernesto Renan. Trabalha e sê perseverante. Lembra-te que escrevi estas linhas em momento supremo, sob a ameaça de assassinato.

Tem compaixão de teus inimigos, como eu compadeço-me da sorte dos meus. Teu pai Luiz Gama".

No dia do seu sepultamento, em 25 de agosto de 1882, o escritor Raul Pompéia escreveu: "Na necrópole da Consolação, já aos primeiros raios da lua, comprimia-se uma multidão imensa na qual se misturavam, confundidos e irmanados na mesma dor, todos os elementos da população, desde os pobres escravos e libertos, até os mais graduados...

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