O Menino Escravo

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas103-106

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Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador, em 21 de junho de 1830.

Era filho natural da negra africana livre, da Costa Mina, nação Nagô, Luiza Mahin, presa inúmeras vezes por envolvimento com insurreições de escravos.

Criou-o quando criança.

Adulto, Luiz Gama procurou-a, incessantemente, em 1.847, 1856 e 1861.

Segundo carta que ele escreveu a Lúcio Mendonça, Luíza era "africana livre, insofrida e vingativa, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã", tendo se envolvido na Sabinada e em várias revoltas de escravos.

O historiador Pedro Calmon chamou-a de "teimosa agitadora". Em 1835, na Bahia, houve uma insurreição de muçulmanos "malês" que ameaçava a Província, quando mulheres de cativos tentaram proclamar a monarquia negra.

Luiza "Princesa" - como a chamavam - tornou-se a principal figura do candomblé. Ela tinha casa em Gravatá e vendia iguarias às famílias das redondezas, que a detestavam.

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Os rapazes aristocratas passaram a chamá-la de Luiza "Princesa". Era filha de rei, nascida na floresta do Congo e o pai governava a nação africana.

Ambos desembarcaram num brigue que fazia o tráfico de escravos na Bahia, juntamente com centenas de escravos.

Luiza era uma criança e no desembarque pai e filha se desencontraram. Ela nunca mais viu o pai.

Referindo-se à escrava Luiza, o diplomata Sérgio Corrêa da Costa, citando o historiador Pedro Calmon, escreveu: "Por ser tão graciosa e ladina, a mulher do armador ficou com ela. Não houve na Bahia mucama mais risonha e talvez tivesse sido feliz na casa do rico, onde cresceu.

Mas, ardia-lhe nas veias o sangue incandescente dos livres, e a lembrança do pai criaram nela o ódio profundo à gente branca.

Um moço peralta prometeu-lhe a liberdade... Aceitou.

Ele comprou-a e deu-lhe alforria. Ela pagou-lhe com seu amor e tinha um filho.

Mas, o coração de mãe e da mulher não abrandara em seu peito forte sentimento - e julgando-se instrumento de uma vontade divina que havia de realizar-se, se entregou completamente à embriaguez do ódio.

Que importava tivesse o tamanino a percorrer pela quitanda, um filho claro, em quem vivia nos olhos rasgados toda a nobreza do sangue paterno?

Luiz não era obstáculo; antes, era estímulo para a missão terrível que se impusera.

Porventura, ele tinha um nome?

Filho de escrava, com a carinha boa também negra, qual seria o seu futuro na sociedade impiedosa, que lhe recusava a instrução, mas o marcava a ferro; que não lhe reconhecia direitos, senão deveres...

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