Guerra das vacinas

AutorAnita Zippin
CargoAdvogada
Páginas248-250
248 REVISTA BONIJURIS I ANO 32 I EDIÇÃO 667 I DEZ20/JAN21
ALÉM DO DIREITO
Greg Andrade ADVOGADO
UM SORRISO, UM BIGODE, UM JOÃO DO BAR
reiros há cerca de um mês, em
uma ação ilegal, um claro aten-
tado contra a advocacia crimi-
nal. Tal ação foi amplamente
divulgada no jornal regional
da Rede Globo, reportagem em
que certamente fiquei famoso
no bar do João.
Depois da reportagem, con-
tinuei frequentando o estabe-
lecimento do João, mas notei
algumas diferenças.
João sempre alegre, nas oca-
siões em que ficamos na hora
do pagamento para debater
assuntos da vida. De repente,
ficou sério e arredio, sequer o
sorriso que é sua marca regis-
trada fazia questão de mostrar,
deixando claro que eu era uma
“persona non grata”.
Respeitei João, afinal, ele
abre seu comércio às 08:00 e
fecha às 23:00 todos os dias,
um cara que nasceu pobre na
Bahia, com trabalho de sol a sol,
conseguiu estudar os filhos, e à
custa do trabalho no bar, man-
tém a vida de sua família.
Um sujeito que somente
tem nos jornais de R$ 0,50, na
programação da TV aberta,
e pelos grupos de whatsapp
suas únicas ofertas de cultura
e informação.
Não julguei, e em um silên-
cio respeitoso, continuei a fre-
quentar o bar.
Hoje, ao pagar a conta, após
duas cervejas, aproveitando
um momento em que estáva-
mos a sós, mandou a seguinte
frase:
– Doutor, sempre te respei-
tei. Mas, é verdade que não
gosta de preto?
Encarei-o com ternura, e
alegre pela pergunta, expliquei
que se era pela reportagem
que saiu na Globo.
– O senhor acredita na pala-
vra de um carcereiro (sabedor
que João é familiar de um pri-
vado de liberdade)??
Olhando dentro de meus
olhos, disse:
– Nem fodendo!
Gargalhamos juntos. E foi
assim que voltou aquele sor-
riso matreiro, por debaixo da-
quele bigode escovado do pro-
prietário do bar do João. n
Obar do João é o típico
“bar do João” que exis-
te de norte a sul deste
Brasil. Um lugar onde
o proprietário deu seu
nome ao estabelecimento, um
comércio situado em meio a
empresas e perto da minha
casa. Por este último motivo
e também pela deliciosa maçã
de peito cozida e cerveja trin-
cando de gelada, tornei-me as-
síduo frequentador.
João trabalha com sua famí-
lia, sua esposa domina a arte
dos temperos, em uma alquimia
que faz lotar na hora do almoço,
faz a maçã de peito derretendo
ser a vedete do “happy hour”.
João é preto, aliás, sua famí-
lia é toda preta, tem um bigode
muito bem aparado, sempre a
bordo de um jaleco que de tão
branco dói a visão, os cabelos
são curtos, rentes ao couro ca-
beludo, e os dentes são bran-
cos, com exceção dos frontais
superiores e inferiores, fazen-
do do sorriso daquele senhor
algo engraçado, que o próprio
João usa como marca registra-
da do seu ótimo humor.
O comércio sempre fica
cheio na hora do almoço, e a
TV sempre ligada na Globo
regional, em que volta e meia
as reportagens (sobretudo po-
liciais) provocam comentários
dos comensais.
Saibam os leitores que este
escritor foi preso pelos carce-
Anita Zippin ADVOGADA
GUERRA DAS VACINAS
Estava uma amiga con-
versando com a outra
em bate-papo online,
um pouco sobre moda,
lojas fechadas, bares fe-
chados, parques fechados, ci-
nemas fechados.
Uma contava de seu país,
onde tudo ficou proibido, que
contavam mais histórias de

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