Há poder em um sindicato: como eu me tornei uma ativista trabalhista.

AutorCornell, Drucilla

Quando uma pandemia global, uma crise climática contÃÂnua e o autoritarismo americano assustador parecem prometer um futuro sombrio, naturalmente se procura por qualquer raio de esperança. Eventos recentes me encorajaram a dar uma nova olhada em sinais encorajadores ao nosso redor, do ativismo juvenil, e reavaliar minha própria história como uma jovem mulher nos movimentos trabalhistas e anti-guerra durante alguns de nossos anos mais sombrios. Neste artigo, tentarei dar sentido a isso, para uma nova geração, na esperança de que ela possa oferecer algumas perspectivas úteis sobre o cumprimento dos desafios que todos enfrentamos hoje.

Meu ativismo, como tantos outros na minha geração, cresceu a partir das grosseiras contradições entre o que os Estados Unidos supostamente representavam como lÃÂder do "mundo livre" e as realidades brutais do racismo sistemático, do sexismo, do classismo e do colonialismo no mundo. Nasci em 1950, o amanhecer de um prometido "Século Americano", na terra natal sul californiana da John Birch Society (1), uma organização anticomunista militante. Foi uma época assustadora. Apenas cinco anos antes, os EUA lançaram bombas atômicas que aniquilaram duas grandes cidades japonesas. E em 1950 a Rússia tinha sua primeira arma nuclear, com mais paÃÂses logo a seguir. Comecei a primeira série com o filme O Susto Vermelho, que nos mostrou que os "comunistas" estavam em todos os lugares e atrás de nós e da nossa "democracia". A ameaça de guerra nuclear com a União Soviética estava sempre no horizonte. Membros do Partido Democrata eram condenados como "comunistas perigosos". Ser um "americano" era ser republicano. Branco significava anglo-saxão, ou a fantasia que você era. Alegações conspiratórias e demonização de qualquer um que pensasse diferente eram princÃÂpios fundamentais. Soa familiar hoje?!

Minha mãe me fez pintar o meu cabelo ruivo de loiro antes de entrar no jardim de infância, porque vermelho estava associado a algum tipo de herança irlandesa, sendo um marcador de que não éramos realmente e verdadeiramente "brancos". Havia uma definição incontestável de mulheres: não se pode fazer. Mulheres não podem ser advogadas, professoras, bombeiras, cientistas, matemáticas, e assim por diante. Um breve perÃÂodo como professora primária era tudo o que você poderia esperar antes de se estabelecer como esposa ou mãe. Então, onde estava a liberdade neste mundo claustrofóbico? Bem, supostamente, ao contrário daquelas pobres pessoas atrás da "cortina de ferro", poderÃÂamos votar.

Em 1956 houve uma grande eleição entre o Presidente Dwight Eisenhower e seu opositor Democrata, Adlai Stevenson. No reduto eleitoral de San Marino, você não poderia sequer votar se você fosse um democrata. Não havia literalmente nenhum democrata na cidade. Conheci pela primeira vez um membro do partido democrático quando tinha 17 anos. Tivemos as prévias na minha turma de primeiro ano. Todos votaram em Dwight Eisenhower. Exceto eu. Não sei por que não votei nele. Não tinha nada a ver com suas polÃÂticas, ou que ele era um Republicano, ou que alguém da minha famÃÂlia estava votando nele. Minha avó disse que era porque eu odiava ver alguém excluÃÂdo de festas de aniversário. Mas tão logo eu decidi isso [por não votar], me mantive nessa posição. Pediram-me para mudar meu voto duas vezes. Quando não o fiz, fui enviada para o escritório do diretor. A preocupação era que eu estava sob influência comunista ou talvez que alguém da minha famÃÂlia fosse um democrata fechado. Minha mãe estava muito chateada. Minha avó foi chamada do trabalho e teve a ideia do aniversário. TÃÂnhamos acabado de começar a ler "See Dick run and Jane sit and admire him" então eu obviamente não fui influenciada pela propaganda comunista. Nem estava tentando envergonhar minha mãe. Tudo o que fiz foi votar. A ideologia que tinha se instalado na minha cabeça era que o direito de votar era a razão dos Estados Unidos ser o mundo livre. Alguma coisa estava acontecendo. Claro que aos seis anos eu não tinha ideia do quê. Mas a lição permanecia em algum lugar. Temos o direito de votar, mas não devemos exercê-lo se isso for contra aquilo que todos os vizinhos dizem sobre como você deve se comportar e pensar.

Havia um sopro de ar fresco neste ambiente sufocante-minha avó. Sim, aquela que teve a ideia de aniversário para me tirar da preocupação da escola de que eu tinha sido contaminada pela influência comunista. Minha avó era uma filha de imigrantes alemães, um ferroviário ferido e uma trabalhadora doméstica. Ela foi forçada a deixar a escola aos 13 anos para sustentar sua famÃÂlia em fábricas exploradoras (sweatshops), que é o que vários locais de trabalho não sindicalizadas ainda são. Foi ideia dela mudar a famÃÂlia para a Califórnia, onde conseguiu um emprego com encadernação de livros, em uma empresa chamada Kellow-Brown. Ela viu um emprego em escritório, pulou nele e conseguiu. No que de inÃÂcio parece ser a versão feminina da história de Horatio Alger, ela se casou com o presidente da empresa que também era de origem pobre.

Mas a tragédia ocorreu no 10 ano de seu casamento quando ele morreu, numa tarde, de um ataque cardÃÂaco. Era 1931, o auge da depressão. Claro que a pergunta veio: quem se tornaria presidente da empresa? Três semanas após a morte do marido, ela foi para Kellow-Brown e disse que se tornaria presidente e foi isso. Dizer que isso era incomum é um eufemismo. As mulheres não tinham gráficas. Ponto final. Mas ela tinha e foi a única mulher presidente de uma gráfica pelos próximos 50 anos. Ela entendeu que muitos não gostariam de trabalhar com uma mulher, e eles poderiam sair sem ressentimentos. Mas qualquer um que ficasse não seria demitido ou colocado em disponibilidade. Ela manteve essa promessa. Então aqui estava uma mulher que viveu sua vida contra o "não pode fazer" e ela deixou claro que eu também poderia.

De Rebelde a Ativista

Talvez minha avó estivesse certa. Se eu fosse guiada por alguma coisa, era um vago princÃÂpio de não exclusão e uma revolta contra o que eu via como autoritarismo arbitrário. Na oitava série parei de ouvir sinos que nos orientavam a mudar de classe, correndo horas de detenção porque eu estava atrasada para todas as aulas. Foi uma crÃÂtica de que eu era mais do que uma máquina de resposta automática. Mas no ensino médio eu retomei a questão da votação.

Em 1954, Brown vs. Board of Education--o caso-paradgmático da Suprema Corte contra o racismo sistemático, desafiou uma das leis básicas de Jim Crow--a doutrina do "separados, mas iguais", que segregavam afro-americanos em escolas em todos os nÃÂveis de educação. Ao declarar a inconstitucionalidade da doutrina, SCOTUS (2) não derrubou o paradigma de 1896 do caso Plessy vs Ferguson, que tinha confirmado o código segregatório de Jim Crow. Nos EUA, a Suprema Corte segue o precedente dos tribunais anteriores, então como Brown derrubou a estrutura jurÃÂdica do "separados, mas iguais", sem derrubar abertamente o caso anterior? O que o tribunal fez em vez disso foi usar estudos sociológicos para mostrar que o "separados, mas iguais" nunca poderia entregar igualdade aos afro-americanos e, portanto, era inconstitucional. Brown era então e agora é a palavra final sobre a ideia de que "separados, mas iguais" fazia qualquer coisa senão entregar uma imitação grotesca do que a educação é para os jovens afro-americanos.

A conhecida Little Rock, Arkansas foi integrada, com bravos estudantes afroamericanos enfrentando o ódio branco na forma de ataques fÃÂsicos violentos, com garrafas e qualquer outra coisa que a "máfia" branca pudesse pegar. A Guarda Nacional foi chamada para intervir. Mas a integração racial completa e duradoura foi alcançada? Longe disso. A ameaça de integração tornou-se a força motriz do voo branco das cidades e do zoneamento excludente nos subúrbios. Em 1964, a Lei dos Direitos Civis foi aprovada e no ano seguinte a Lei dos Direitos de Voto, uma grande vitória para os Cavaleiros da Liberdade (Freedom Riders) e o que se tornou popularmente conhecido como o movimento dos direitos civis, ativistas afro-americanos e diversos grupos aliados, após muitos anos literalmente arriscaram a vida para finalmente permitir a todos--seja qual fosse a raça ou etnia--a se sentirem seguros para votar e aproveitar a igualdade de direitos de cidadãos. Mas a triste realidade é que a doutrina Brown sozinha não pode garantir a completa integração escolar. Essa falha levou a NAACP a convocar estudantes brancos a se recadastrarem voluntariamente em todas as escolas locais negras. Respondi ao chamado deles e tentei me matricular na South Pasadena High School, a maior escola negra perto da minha casa, mas meus pais não me deixaram ir. Foi apenas em 1971 que a Suprema Corte, em Swann V. Charlotte-Mecklenburg Board of Education, tentou corrigir essa falha, por meio do transporte interescolar. Isso infelizmente foi combatido tão amargamente por pais brancos e pautado com resistência por polÃÂticos conservadores durante a década de 1970 que fez desaparecer uma possibilidade real de alcançar a integração.

Aos 15 anos, me ofereci para registrar afro-americanos para votar em Pasadena do Sul. à um mito que apenas no Sul aos afro-americanos foram negados o direito de votar. O reduto eleitoral e a opressão total de afro-americanos assombraram todo o paÃÂs. A privação de direitos foi um problema nacional que foi finalmente...

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