O protocolo de família como instrumento jurídico de continuidade da empresa e o acordo de quotistas

AutorClaudiane Aquino Roesel
Ocupação do AutorMestre em Direito nas Relações Econômicas e Sociais da Faculdade de Direito Milton Campos - FDMC
Páginas61-86
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O PROTOCOLO DE FAMÍLIA
COMO INSTRUMENTO JURÍDICO
DE CONTINUIDADE DA EMPRESA
E O ACORDO DE QUOTISTAS
Conforme bem elucida Miguel Silva, a maior diculdade da empresa fa-
miliar é a miscelânea que se faz, com repercussões jurídicas, sobre os institutos
família-propriedade-empresa. Pior ainda é a empresa fazer ecoar as discordân-
cias latentes de seus membros consangüíneos nas instalações da organização
fazendo dos negócios uma extensão das suas casas. Nesse ponto, é imperioso
lembrar as palavras amargas de Aristóteles Onassis que devem, a todo custo,
serem afastadas de nossa realidade: “Família é o grupo de pessoas unidas pelo
sangue e o amor, mas separadas pelo dinheiro.” (MIGUEL SILVA, 2006, s. p.)
Como forma de mecanismo para superação do conito que geralmente
permeia as empresas familiares numa esfera superior aos cargos da organiza-
ção, a governança tem um importante papel na medida em que pode reduzir
conitos e criar o espaço para os familiares que não serão gestores terem con-
tato e poder de decisão junto à empresa. Um bom exemplo é o Protocolo de
Família que, segundo Paulo Tondo, tem a nalidade de estabelecer proposi-
ções razoáveis de convivência entre os membros familiares que os constroem,
visando tornar a “vida” dentro das empresas e das famílias mais tranquila e
organizada.
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CLAUDIANE AQUINO ROESEL
Esse protocolo servirá de base para a tomada de decisão a respeito de te-
mas polêmicos, delicados e que, por não serem esclarecidos, geram conitos e
possíveis dissoluções de sociedade familiares.
Os protocolos familiares, que também podem ser chamados de pactos,
acordos, constituições, estatutos ou códigos de conduta devem ser formais,
escritos e rmados entre os membros de um determinado grupo e pactuados
entre cônjuges e herdeiros. A participação de cada integrante da família na
construção do conteúdo do item a ser proposto no protocolo faz com que exis-
ta maior probabilidade de comprometimento entre as partes, visando à perpe-
tuação futura. Esse instrumento deve envolver o todo, ouvindo os interesses de
cada indivíduo. O pensamento individual que estiver em conito com o grupo
precisa ser acertado em favor do todo.
Muitas vezes, a vontade pessoal é deixada de lado e o que, aparentemente,
é fraqueza, se transforma em forma poderosa posteriormente. A nalidade do
Protocolo Familiar é disciplinar as relações familiares, patrimoniais e socie-
tárias entre os signatários, atribuindo-lhes direitos e obrigações. Partindo do
princípio que como consequência necessária a uma adaptação da nossa legis-
lação às mudanças nos contextos históricos, faz-se necessário um instrumento
para exibilizar o regime jurídico, congurado numa sociedade que não é fe-
chada e que convive em harmonia com as novas tendências.
Conitos de interesse podem existir e muitas vezes as adversidades ou fa-
talidades da vida, os descuidos no cumprimento das regras, as pressões exer-
cidas pelas diculdades em relação a compromissos nanceiros ou problemas
de vaidade ou mesmo de inuência de novos cônjuges ou parentes podem
despertar “diferenças” anteriormente deixadas de lado.
Nos protocolos de família são apresentados os valores da família e são de-
nidas as regras que irão regular as relações entre a Família, a Propriedade
e o Negócio. Neles serão denidos, por exemplo, as regras para entrada de
familiares na empresa, direitos e responsabilidades de membros da família que
trabalham na empresa e programas de educação para sócios e herdeiros. Essas
denições irão prevenir ou resolver futuros conitos que podem surgir entre
os familiares e os negócios, e isso contribuirá para tornar mais possível a con-
tinuidade da empresa. As regras de um protocolo precisam prever situações do
passado, do presente e do futuro. O cuidado, ou seja, a preocupação com o que
está por vir se justica em função da complexidade criada com o surgimento
de novas gerações.
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