A ruptura nos modelos tradicionais de convivência na sociedade tecnológica

AutorAna Paula Oriola de Raeffray
Páginas45-53
A RUPTURA NOS MODELOS TRADICIONAIS DE CONVIVÊNCIA
NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA
Ana Paula Oriola de Raeffray
Doutora e mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo — PUC/SP.
Membro da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social. Vice-Presidente do
Instituto Brasileiro de Previdência Complementar e Saúde Suplementar — IPCOM. Presidente
da Comissão Especial de Previdência Complementar da Ordem dos Advogados do Brasil —
Seção de São Paulo — OAB/SP.
1. INTRODUÇÃO
William Harvey deu início a uma discussão que perdurou por mais de setenta anos e somente foi
parcialmente debelada quando Luís XIV determinou que na França a anatomia do Homem seria ensinada
segundo a circulação e as últimas descobertas, fazendo com que pela primeira vez o poder político tivesse
que tomar partido nas disputas sobre as ciências da vida.
Em 1598, inspirado pelo professor Galileu Galilei, Harvey começa a realizar diversas experiências
descobrindo o caminho da circulação sanguínea no corpo humano, sendo que quando publica o seu livro
em 1628, relatando a sua descoberta, passa a sofrer inúmeros ataques. Segundo Guy Patin, então reitor da
Faculdade de Paris: “A circulação sanguínea, seu trânsito circular pelos vasos, isso é a infantilidade de um
espírito ocioso, uma verdadeira miragem que inflama os Íxios para procriar Centauros e os monstros...”.(1)
A teoria da circulação sanguínea teve, de início, pouquíssimos apoiadores, dentre eles Descartes,
que apesar de divergir quanto a alguns aspectos pontuais assinalados por Harvey, concordava que ela
efetivamente existia. De toda sorte, os debates, mesmo depois da decisão de Luís XIV continuaram no meio
médico, nos bancos das universidades e das academias.
Uma descoberta tão importante para a vida do ser humano levou ao menos setenta anos para ser
reconhecida e utilizada. As inovações naquele tempo andavam a passos lentos. Da mesma forma, a primeira
revolução industrial, dando início a era moderna, foi lenta, ocorrendo aproximadamente entre 1760 e 1840,
com a invenção da máquina a vapor e construção de ferrovias, durando perto de oitenta anos.
A segunda revolução industrial iniciou-se no século XIX e adentrou no século XX, possibilitando
especialmente a produção em massa, durando quase cem anos. A terceira revolução industrial começa
na década de 1960 e é conhecida como a revolução digital e tem o seu ápice com o estabelecimento
da internet na década de 1990. Agora estamos diante da quarta revolução industrial, assim definida por
SCHWAB: “Ciente das várias definições e argumentos acadêmicos utilizados para descrever as três primeiras
revoluções industriais, acredito que hoje estamos no início de uma quarta revolução industrial. Ela teve
início na virada do século e baseia-se na revolução digital. É caracterizada por uma internet mais ubíqua e
(1) FABIANI, Jean-Noël. 30 histórias insólitas que fizeram a medicina. 1. ed. São Paulo: Vestígio, 2019. p. 94.
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