Débora, por que você?

AutorRejane Zenir Jungbluth Teixeira Suxberger
Ocupação do AutorDoutoranda em Ciências Sociais, linha 'Gênero e Igualdade', pela Universidade Pablo de Olavide (Espanha)
Páginas99-122
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Débora, por que você?
Neste capítulo, apresento a metodologia adotada na pesquisa,
a escolha do estudo de caso, a técnica de obtenção, organização e
análise de dados. Os resultados serão examinados com enfoque na
categoria das doxas, na medida em que tento demonstrar as crenças
naturalizadas na ótica dos/as operadores/as do sistema de justiça nas
práticas e discursos.
Trata-se de uma investigação qualitativa na qual faço uma aná-
lise documental dos discursos e práticas de um estudo de caso com
exame das tomadas de decisões pelos/as agentes do sistema de jus-
tiça –delegado/da, promotor/ra, juiz e desembargador19–, para buscar
entender como são construídas as tomadas de decisões não funda-
mentadas no gênero, o que fazem e o que lhes sucede nos termos
que são significativos e como oferecem uma compreensão nos este-
reótipos masculinos e femininos.
A partir dos documentos examinados é possível constatar as
teorias que permeiam o desenvolvimento das respostas e explica-
ções de questões sociais quando ausentes de gênero no sistema de
justiça. Examino não apenas os discursos, mas faço também o ma-
peamento das práticas dos/as operadores/as do sistema de justiça
que em grande parte evidencia essa doxa subjacente informando e
alimentando habitus dos/as agentes. A técnica de pesquisa é o estudo
de caso com análise documental, onde refaço o percurso da vítima
e identifico as doxas. Seguidamente, indico os parâmetros de um jul-
19 No estudo de caso, não houve nenhuma mulher atuando como juíza
e/ou desembargadora. Por isso, mantenho o gênero masculino.
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Coleção Criminologia, Direito Penal e Política Criminal
Violência contra a mulher e o sistema de justiça: epistemologia feminista em um estudo de caso
REJANE ZENIR JUNGBLUTH TEIXEIRA SUXBERGER
gamento feminista(HUNTER; MCGLYNN; RACKLEY, 2010), marcado
por uma epistemologia localizada (HARAWAY, 1991), para repensar o
transcurso do caso e o julgamento além das doxas identificadas.
1. Uma investigação qualitativa
Este trabalho é uma pesquisa sociojurídica que busca instru-
mentos e teorias que visem aproximar, por meio do caráter quali-
tativo, a reconstrução dos discursos judiciais no percurso em que
uma vítima de violência doméstica busca no sistema de justiça. A
metodologia, como «caminho do pensamento e a prática exercida
na abordagem da realidade» (MINAYO et al., 2002, p. 16) é ponto alto
de uma pesquisa ao trazer as concepções teóricas e as técnicas que
constroem essa realidade.
Ao decidir por uma metodologia qualitativa, busco interpretar
o fenômeno das decisões e práticas judiciais ausentes de um olhar de
gênero. Quero entender a interpretação que é dada na compreensão
da violência contra a mulher, sob a perspectiva da prevenção. Com-
preender os pontos de vista daqueles que, de algum modo, influen-
ciam na tomada de decisão e que também decidem. A necessidade
de interpretar a realidade por intermédio dos elementos discursivos
me leva a informações aprofundadas no caso analisado, assim como
possibilita a minha imersão nas circunstâncias que condicionavam
o problema (CHIZZOTTI, 2000, p. 80).
Por meio de pesquisa no banco de dados20 e com a revisão bi-
bliográfica (ARGUELHES; GOMES; NOGUEIRA, 2018; CAMPOS, 2011b,
20 Pesquisas realizadas no banco de teses da CAPES (http://bancodeteses.
capes.gov.br), na Biblioteca digital brasileira de teses e dissertações do

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