Depressão: uma breve e necessária análise

AutorPedro Shiozawa
Páginas35-43

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1. Introdução

O conhecimento atual mostra que a síndrome de burn-out é uma precursora ou um fator de risco para a doença depressiva (Elinson et al., 2004).

Alguns autores vão além. Para Bianchi. et al., agora já há evidências robustas de que o burn-out é uma condição depressiva. Críticos consistentes do MBI (Maslach Burn-out Inventory), para esses autores “o estado atual da ciência sugere que o burn-out é uma forma de depressão, e não um tipo diferenciado de patologia”. Para eles, e conforme estudo próprio, a maioria dos indivíduos identificados como deprimidos relataram sintomas de depressão do DSM-5 com características atípicas — reatividade de humor, ganho de peso significativo ou hiperfagia, hipersonia, paralisia de chumbo e sensibilidade de rejeição interpessoal, resultando em comprometimento social ou ocupacional. Observam ainda que a depressão atípica e o burn-out têm sido associados em pesquisas anteriores a uma fadiga permeável, um curso crônico e hipocortisolismo. (Bianchi, Schonfeld, Laurent, 2015)

Ainda que burn-out e depressão sejam entidades diferentes, conforme a literatura majoritária atual preconize, por haver uma alta comorbidade relatada, abordaremos, de forma resumida, aspectos essenciais da depressão.

2. Depressão e tristeza: da função à disfunção

O Conceito do termo depressão deve ser analisado dentro do contexto no qual se emprega o termo. Em linhas gerais, o termo depressão pode descrever um conjunto de fenômenos, que em continuidade oscilam entre um uso corriqueiro para descrever um estado afetivo de tristeza, uma emoção humana normal e reativa a estressores internos ou externos, até o emprego mais técnico para caracterizar uma doença psiquiátrica grave em que essa tristeza se torna duradoura ao longo de um período mínimo de tempo determinado e em associação com vários outros sintomas psicológicos e somáticos, comprometendo o funcionamen-

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to pessoal e social do indivíduo. Dessa maneira, o termo depressão no uso diário pode por um lado fazer referência a um estado emocional interno, saudável e adaptativo; por outro, representar de modo mais preciso, uma condição clínica específica embasada em disfunções cerebrais e marcada por critérios diagnósticos devidamente estabelecidos. Em síntese, podemos simplificar: nem toda forma de tristeza é doença, mas algumas são.

A reação a circunstâncias adversas que envolvam a perda de elementos materiais ou simbólicos, configura frequentemente um estado de humor deprimido transitório e adaptativo. No entanto, esse estado deprimido por vezes pode se tornar excessivo quanto à intensidade, duração e complexidade, sendo acompanhado por sintomas complementares como alteração do sono, apetite, planejamento e capacidade de organização. Nesse cenário mais grave e disfuncional devemos pensar em uma doença.

Raramente será patológico o sintoma humor depressivo isolado, podendo não só ocorrer reativamente mas também constituir um traço de personalidade estável, constante desde a infância ou adolescência. Contrariamente ao que sucede na depressão clínica, a esse humor depressivo isolado não se associam outros sinais e sintomas que conjuntamente constituem uma síndrome continuada durante um período determinado e de gravidade variável.

Raramente será patológico o sintoma humor depressivo isolado, contrariamente ao que sucede na depressão clínica, a esse humor depressivo isolado não se associam outros sinais e sintomas que conjuntamente constituem uma síndrome continuada durante um período determinado e de gravidade variável.

A depressão pode ser secundária a doenças físicas, a outras doenças psiquiátricas, ao efeito negativo de alguns fármacos e a acontecimentos de vida, dificuldades adversas e outras fontes de estressores. Vale salientar que a gênese do episódio depressivo, apesar de influenciada por tais estressores externos, não ocorre de maneira linear frente aos mesmos, mas sim por meio de uma complexa e ainda nebulosa interação entre meio ambiente, vulnerabilidade individual e fatores genéticos (Levinson).

Assim, quando utilizamos o nome depressão, referimo-nos, em termos genéricos, à entidade clínica e seus subtipos e não a um estado de humor negativo, triste ou depressivo, em consonância com as circunstâncias que o desencadearam.

3. Transtorno depressivo maior
3.1. Aspectos gerais

A depressão ou transtorno depressivo maior (TDM) é uma condição clínica caracterizada por episódios depressivos que se alternam com períodos de humor

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normal. O quadro clínico é comumente caracterizado por sintomas limitantes como humor deprimido, anedonia (falta de prazer em atividades outrora prazerosas), alterações no sono, no apetite, na psicomotricidade, além de pensamentos pessimistas, de morte e tentativas de suicídio. Esses episódios têm duração variada, durando em média 6 a 12 meses, na dependência de estratégias terapêuticas adequadas. Metade dos episódios é recorrente e em um terço deles ocorre refratariedade ao tratamento (os sintomas persistem a despeito do uso adequado de antidepressivos). O diagnóstico (Apa) de depressão é eminentemente clínico. Os critérios estão sintetizados na tabela abaixo. TABELA 1.

Critério A - Cinco ou mais dos sintomas seguintes presentes por pelo menos duas semanas e que representam mudanças no funcionamento prévio do indivíduo:

  1. Humor deprimido na maioria dos dias;

  2. ...

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