O empreendedorismo de base tecnológica

AutorJosé Luiz de Moura Faleiros Júnior
Páginas77-102
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O EMPREENDEDORISMO
DE BASE TECNOLÓGICA
Eric Schmidt, ex-CEO da Google, Inc., af‌irmou, em entrevista concedida em
2010, que ao longo de dois dias é produzida a mesma quantidade de informação que a
humanidade criou, desde a sua gênese, até 2003.1 E, evidentemente, esta constatação
aponta a relevância do estudo do empreendedorismo para o f‌im de se delimitar, no
campo tecnológico, o papel que novos arquétipos societários propiciam às organi-
zações habilidades de adaptação para a sustentação de seus modelos de negócio a
partir do bom uso da tecnologia.
A ideia de empreendedorismo surge a partir de três elementos essenciais: ino-
vação tecnológica, crédito bancário e o perf‌il inovador do empresário. Tais fatores
são detidamente analisados por Schumpeter por serem os principais indicadores de
desenvolvimento para a Economia de um país, destacando-se, na formação de uma
empresa, a transformação do empresário em empreendedor quando se conjugam
em um processo produtivo ef‌iciente e ef‌icaz.
Para o autor, “o empresário nunca é aquele que corre risco”2, pois este é assumido
por quem concede crédito - o investidor - para a alavancagem do negócio. Esta visão,
de vanguarda à época em que foi concebida, se revela ainda mais atual em tempos
de empreendedorismo de base tecnológica, na medida em que as startups, que serão
melhor analisadas adiante, se caracterizam pela grande dif‌iculdade de constituição
de um modelo de negócio com riscos calculados.
Peter Drucker destaca o perf‌il empreendedor como sendo “aquele que sempre
está buscando a mudança, reage a ela, e a explora como sendo uma oportunidade”3,
ou seja, o empreendedor é, na essência, um desaf‌iador, que está em constante fase
de mutação e adaptação, sujeitando-se às inf‌initas transformações sociais, que inter-
ferem diretamente em suas atividades, mas assumindo, ainda, o papel de transferir
recursos econômicos de um setor de menor produtividade para outro, de maior.
1. SCHMIDT, Eric. Every 2 days we create as much information as we did up to 2003, 04 ago. 2010. Entrevista-
dor: M. G. Siegler. São Francisco: TechCrunch, 2010. Disponível em: https://techcrunch.com/2010/08/04/
schmidt-data/ . Acesso em: 25 abr. 2022.
2. SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital,
crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 92.
3. DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios.
Tradução de Carlos Malferrari. São Paulo: Pioneira, 1987, p. 36.
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VESTING EMPRESARIAL • José Luiz de Moura FaLeiros Júnior
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Segundo Ronald Degen, “ser empreendedor signif‌ica ter, acima de tudo, a
necessidade de realizar coisas novas, pôr em prática ideias próprias, característica
de personalidade e comportamento que nem sempre é fácil de se encontrar”.4 Esta
concepção é corroborada por Dornelas, que faz alusão ao empreendedorismo como
sendo o agente responsável pelo crescimento econômico, a partir de sua habilidade
de vislumbrar o futuro, inovar, tomar decisões com dinamismo, conhecimento,
dedicação, trabalho em equipe e, especialmente, criar valor para a sociedade.5
Este viés “humanista” é abordado, também, por Ulrich Beck, que assimila a
diferença entre globalismo e globalização ao explicitar que, enquanto no primeiro
fenômeno há unicamente a preocupação econômica e a tentativa de ordenação es-
pontânea do mercado, há, no segundo, a inserção de pautas de direitos fundamentais
que explicitam este destacado viés, propiciando uma ressignif‌icação do Direito Civil.6
3.1 AS STARTUPS E SUA RELEVÂNCIA PARA O FOMENTO EMPRESARIAL
Traduzindo literalmente do inglês, startup signif‌ica partida, início, começo,
denotando-se a f‌igura de um projeto, ideia ou modelo de negócio que tem um ponto
de partida, mas carece de formatação jurídico-administrativa.
Não existe na doutrina uma def‌inição unânime sobre o que são, efetivamente, as
startups, e este tem sido um desaf‌io recorrentemente enfrentado pela doutrina que se
debruça sobre o estudo dessa disciplina a ponto de propor modelagens que a distin-
gam das estruturas empresariais tradicionais. É o caso de Eric Ries, que desenvolve
o conceito da “startup enxuta” (lean startup) em sua obra de mesmo título, na qual
apresenta o seguinte conceito de startup: “(...) uma instituição humana projetada
para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”.7
Este conceito, desdobrado a “extrema incerteza” propugnada pelo autor, revela
o principal desaf‌io que se tem na condução das atividades empresariais desenvolvidas
quando da criação de uma startup. Entretanto, a visão de Ries não revela nenhum
elemento concernente ao tamanho da empresa, da atividade ou do setor da Economia
em que supostamente se insere este peculiar modelo societário.
É indubitável que qualquer pessoa que decida se aventurar e empreender a
partir de uma ideia ou modelo de negócio que desenvolva, enfrentará uma série de
incertezas (muitas delas extremas), que poderão inviabilizar sua proposta. E, nesse
4. DEGEN, Ronald Jean. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2009, p. 10.
5. DORNELAS, José Carlos de Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008, passim.
6. BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à globalização. Tradução de André
Carone. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 265.
7. RIES, Eric. The lean startup: how today’s entrepreneurs use continuous innovation to create radically suc-
cessful businesses. Nova York: Crown, 2011, p. 24. No original: “(...) an organization dedicated to creating
something new under conditions of extreme uncertainty”.
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