Ética e Morais Empresariais

AutorPaulo Leandro Maia
Páginas69-77

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Conforme amplamente descrito por Robert Henry Srour, existe uma ambivalência empresarial.

Numa economia competitiva, os empresários não têm como deixar de considerar os interesses díspares dos agentes com os quais se relacionam. Porque mercados abertos, aliados a regimes políticos liberais, conferem enorme poder de fogo àqueles que se organizam.

É bem verdade que isso perde boa parte de seu sentido numa economia oligopolista ou estatista, assim como em ambientes políticos totalitários. Porém, nas economias competitivas, os empresários ficam à mercê de um jogo de forças que os leva a estabelecer distinções entre os vários agentes com os quais interagem. Seja por percepção ou por uma análise de custo/benefício, os empresários acabam dividindo os agentes em duas categorias:

  1. Aqueles que dispõem de maior cacife, seja pela capacidade de retaliação ou de agregar valor ao negócio, são tratados com lisura, correção ou idoneidade; pois não convém manipulá-los sob pena de colocar em risco a sobrevivência dos negócios.

  2. Os demais, que não dispõem de cacife, ou exercem fraca articulação, são tratados de forma diversa. As empresas se valem das brechas existentes na lei ou de regulamentos para manipulá-los tentando tirar o máximo de vantagens.

Essa ambigüidade comportamental, comum nos setores empresariais é um refiexo da moral macro no plano nacional. Portanto, se refietindo no plano micro em duas morais: a moral da parcialidade e a moral da parceria.

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6. 1 A moral da parcialidade

Trata-se de um discurso seletivo que adota normas mistas de conduta, porque não se furta a justificar conveniências oportunistas nas relações com aqueles que estão destituídos de cacife, embora exija lealdade nas relações para consigo. É um discurso permissivo e hipócrita.

6. 2 A moral da parceria

Corresponde a um discurso refietido, com adoção de padrões de conduta centrados em interesses de médio e longo prazo, preocupa-se com o impacto que decisões e ações gerarão sobre a empresa. Sua máxima é: "negócios são acordos que beneficiam ambas as partes".

Essa moral implica uma crítica à miopia imediatista, típica da moral da parcialidade. O objetivo consiste, portanto, em tecer uma malha de fidelidade entre os agentes envolvidos, articulando alianças duradouras. Suas pedras fundamentais são o profissionalismo e a idoneidade nas transações.

A moral da parceria encontra-se em construção. Corresponde a um esforço penoso para desenvolver uma cidadania empresarial, calcada na percepção de que a responsabilidade social constitui uma estratégia consistente num mundo competitivo.

Aos poucos, e se for universalizada, a estratégia deixará de ser um diferencial para converter-se numa necessidade compartilhada.

Até o presente momento, há um antagonismo no mundo dos negócios, pois este não dá as costas ao cinismo que rege a moral da parciali-dade, pondo a consciência em leilão; e cultiva certo ceticismo quanto à eficácia da moral da parceria.

Sem que orientações precisas sejam adotadas, as empresas tendem a ficar reféns da moral da parcialidade, trilhando a moral do oportunismo.

No caso brasileiro, que cultiva uma dupla moral: a da integridade, como discurso oficial, e a do oportunismo, como discurso oficioso, a confusão está armada, pois o país formal é um mas o real vive no baixo mundo das práticas interesseiras, e só muito recentemente é que se

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começou a pensar em uma moral da parceria nos negócios, talvez em função da globalização e da democratização.

6. 3 As morais brasileiras

Em seu livro, "Ética Empresarial", Robert. H. Srour dedica um capítulo para analisar, com profundidade, a hibridez das morais brasileiras. O Brasil por raízes históricas cultiva uma dupla moral:

  1. Como discurso oficial que inclui todos os agentes sociais, uma moral da integridade.

  2. Como discurso oficioso que permeia a sociedade como um todo, uma moral do oportunismo.

Assim sendo, só recentemente, em função da inserção do Brasil no novo estágio econômico internacional e da democratização do País, é que começa-se a repensar as atitudes empresariais, em função da necessidade da nova ordem internacional, que exige profissionalismo e transparência nas relações, bem como parceria entre os agentes envolvidos no processo econômico, seja para...

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