Fundamentos de Ética da Antiguidade Clássica à Contemporânea

AutorPaulo Leandro Maia
Páginas23-32

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A reflexão ética propriamente dita se inicia no mundo ocidental na Grécia antiga, quando os filósofos procuram o fundamento moral segundo uma compreensão da realidade distanciada dos relatos míticos. (ARANHA E MARTINS, 2000, p. 124)

2. 1 Ética Grega

Os problemas éticos são objetos de uma atenção especial na filosofia grega, exatamente quando se democratiza a vida política da antiga Grécia e particularmente de Atenas. (VÁZQUEZ, 2002, p. 236)

2.1. 1 Pré-Socrático

O período pré-socrático compreende o século VI a.C. ao início do século IV a.C.). Nesse período, os filósofos pré-socráticos, também conhecidos como filósofos da natureza, criam um novo conceito de natureza. A natureza é o conjunto de tudo que existe. A existência das coisas faz com que elas sejam cognoscíveis. A natureza como um todo também é cognoscível por si mesma. Não precisamos de intermediários para contemplar a sua existência, pois ela se manifesta com uma evidência incontestável.

A preocupação não era com a interioridade do ser, mas com a ordem imposta pela divindade no universo (autoria e conservação). Havia o hilozoísmo ou uma tentativa de personificação dos elementos naturais, como filosofia da natureza, cosmologia e dogmas, porque investiga sem saber se pode ou não conhecer. A divinização da água (Tales), do ar (Anaxímenes), do fogo (Heráclito) e do infinito (Anaxágoras) era comum. Para Pitágoras, os números governam o universo e o sentido de justiça (igualdade) é matemático. O símbolo de justiça era o talião. Para

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os otimistas, como Demócrito, Epicuro e Empédocles, o universo não precisa ser explicado com um Deus, porque os átomos explicam a força imanente da natureza. O espaço é formado por átomos e subsiste por si, mas o tempo necessita de matéria em movimento para ser compreendido.

2.1. 2 Sócrates

Nasceu em Atenas em 470 a.C.; adversário da democracia ateniense e mestre de Platão; compartilha o desprezo dos sofistas pelo conhecimento da natureza, bem como sua crítica da tradição, mas rejeita o seu relativismo e o seu subjetivismo.

Para Sócrates, o saber fundamental é o saber a respeito do homem (daí sua máxima: "conhece-te a ti mesmo"), que se caracteriza por sua vez por esses três elementos: 1) é um conhecimento universalmente válido, contra o que sustentam os sofistas; 2) é, antes de tudo, conhecimento moral; 3) é um conhecimento prático (conhecer para agir retamente). Portanto, a ética socrática é racionalista. Nela encontramos:

  1. uma concepção do bem (como felicidade da alma) e do bom (como o útil para a felicidade); b) a tese da virtude (areté), capacidade radical última do homem como conhecimento, e do vício como ignorância (quem age mal é porque ignora o bem; por conseguinte, ninguém faz o mal voluntariamente); e c) a tese, de origem sofista, segundo a qual a virtude pode ser transmitida ou ensinada.

Para Sócrates há princípios universais (direito positivo) de ordem e justiça que emanam da divindade e são impostos aos homens. Desobedecer às leis, mesmo as injustas, é contrário a Deus, moral e ética (ignorância). Sócrates tenta mostrar a racionalidade dos princípios morais, a logicidade das virtudes e que é possível a conversão moral dos homens de forma puramente intelectual. Bens são úteis se produzem felicidade. A virtude ou sabedoria é o bem supremo, do qual dependem todos os outros bens.

Em síntese, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente. O homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz.

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2.1. 3 Os Sofistas

Os Sofistas constituem um movimento intelectual na Grécia do século V a.C. Sofistas eram os mestres ou professores de uma arte ou técnica ou ofício. Eram eruditos e possuíam todos os conhecimentos úteis ao objeto de seus ensinamentos. Os Sofistas ensinavam a arte de argumentar e persuadir, decisiva para quem exerce a cidadania numa democracia direta, onde as discussões e decisões são feitas em público e onde vence quem melhor souber persuadir os demais, sendo hábil, jeitoso, astuto na argumentação em favor de sua opinião e contra a do adversário.

Os sofistas regem contra um saber a respeito do mundo porque o considera estéril e se sente atraído especialmente por um saber a respeito do homem, particularmente político e jurídico. Para os sofistas não existe nem verdade nem erro, e as normas por serem humanas são transitórias. Protágoras cai assim no relativismo ou subjetivismo (tudo é relativo ao sujeito, o "homem é a medida de todas as coisas"), e Górgias sustenta que é impossível saber o que existe realmente e o que não existe.

Dessa maneira, para os filósofos sofistas os princípios morais resultam de convenções sociais.

2.1. 4 Platão

Platão nasceu em Atenas em 427 a.C. e morreu em 347 a.C.; discípulo de Sócrates e, como seu mestre, também é inimigo da democracia ateniense.

A ética de Platão depende intimamente como a sua política: a) da sua concepção metafísica (dualismo do mundo sensível e do mundo das idéias permanentes, eternas e têm como cume a...

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