Globalização

AutorJeanne da Silva Machado
Páginas169-189
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Capítulo 3
GLOBALIZAÇÃO
Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma;
todo homem é um pedaço do continente, uma par te da
terra firme. Se um torrão de ter ra for levado pelo mar,
a Europa fica menor, como se tivesse perdido um
promontório, ou perdido o sola r de um amigo teu, ou o
teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a
mim, porque na humanidade me encontro envolvido;
por isso, nunca mandes per guntar por quem os sinos
dobram; eles dobr am por ti.
John Donne
3.1. INTRODUÇÃO
Este capítulo trata das conexões entre as sociedades modernas e as
tradicionais, procurando destacar a colisão entre três tipos de economias, a
de mercado, a de subsistência e a da natureza. Na sua classificação, Hart
aborda o conceito, criado por Donella Meadows (1999), de “pegada
ecológica” ou a medida do consumo feita a partir do estilo de vida dessas
sociedades. A partir daí, vários organismos internacionais e cientistas
sociais passaram a fazer tais medições e a olhar para as questões que estão
na causa e não apenas no efeito do desequilíbrio social e ambiental.
As ameaças ambientais de abrangência internacional passaram a
ser percebidas desde o final da década de sessenta em todos os cantos do
planeta. A incidência de problemas ambientais, tais como lagos mortos,
rios em chamas, chuva ácida, derramamento de óleo nos oceanos, exaustão
dos campos, devastação das florestas, contaminação da água potável,
poluição urbana insuportável, pobreza, doenças infecciosas capturaram o
interesse público e chegaram à agenda política internacional após o
surgimento dos movimentos sociais ambientais nos países industrializados.
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O estudo das questões ambientais precedeu grande parte da
preocupação atual com a globalização, antecipando muitas das
características descritivas da globalização e os temas comumente
utilizados para analisar as forças políticas e econômicas associadas à
globalização.
A globalização é uma tendência, cujas razões prováveis seriam: i)
os problemas globais, como a degradação do meio ambiente e a
superpopulação, cujas soluções ultrapassam as fronteiras e as forças das
estruturas dos Estados soberanos, ii) o desenvolvimento inquestionável de
caráter transnacional em quase todas as áreas da atividade humana, em
virtude dos extraordinários avanços nos meios de informação, nas
telecomunicações e na tecnologia de transportes, e iii) o avanço das
corporações transnacionais influenciando fortemente as economias
regionais.
Aliado a isso, o impacto do colapso do socialismo, com a
destruição do conceito ideal de igualdade, trouxe uma forte tendência ao
niilismo e ao egocentrismo. O triunfo da democracia liberal, face a face
com o socialismo, trouxe no seu conceito de prevalência de economia de
mercado efeitos devastadores quando se projeta o grau de abrangência
dessa economia para o cenário global nos dias de hoje. Sem algum tipo de
força aglutinadora, deixando as questões à mercê das forças centrífugas do
mercado mundial (desagregadoras, pois a globalização de mercado é,
afinal de contas, motivada pelo interesse do lucro, e nessa conjuntura, os
interesses das grandes corporações e Estados não estão voltados para as
comunidades locais) logo se descobre que se cria uma anarquia, caos
improdutível e incontrolável(IKEDA, 1997).
Essa tendência globalizante acaba por criar novos paradigmas nas
sociedades locais situadas fora do palco dos acontecimentos econômicos
marcantes dessa época. Essa pressão pode ser sentida no comportamento -
onde os indivíduos passam a ter novos paradigmas evidenciados,
principalmente, nas formas aparentes e externas, importados dos grandes
centros econômicos, vindos de todos os lados e formas (comunicação de
massa, internet, a cultura “de matriz” das corporações transnacionais, etc).
O mesmo se constata, consequentemente, nos objetivos de vida dos

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