Matriz intelectual desconstrutivista do primado do trabalho e do emprego

AutorMauricio Godinho Delgado
Páginas56-60

Page 56

O quarto grupo de fatores (concepções intelectuais anunciadoras do suposto fim do trabalho e do emprego) é de clara natureza conjuntural, atando-se, direta

Page 57

ou indiretamente, à sedimentação da hegemonia liberal recente. Embora se dirija à análise da estrutura da sociedade econômica, em especial no campo do trabalho, é de natureza essencialmente cultural, ao propor uma nova visão de mun do, novo "paradigma" de compreensão do sistema capitalista.

A simples circunstância de tais concepções sustentarem - ain da que a partir de diferentes parâmetros - o eclipse do emprego e, em algumas das variantes mais extremadas, do próprio trabalho, ou, pelo menos, a perda da relevância destes na atual fase do capi talismo, tudo isso agride, frontalmente, a raiz cultural da democracia social contemporânea (consistente no primado do trabalho e do emprego), a concepção filosófica democrática subordinadora da eco nomia à política, além de todo o sistema jurídico de valorização material e moral do indivíduo que trabalha.

A matriz intelectual desconstrutivista do primado do trabalho e do emprego, embora comportando vertentes com indubitável diversidade entre si, elabora sua reflexão a partir, principalmente, de três tipos de parâmetro: o tecnológico, o organizacional e o mercadológico.

O parâmetro tecnológico é, seguramente, entre todos, o que mais impressiona, sendo inclusive aquele que mais embeveceu parte da intelectualidade oriunda da própria tradição de esquerda.

Por essa diretriz, entende-se que a terceira revolução tecnológica teria sido tão intensa e inovadora que comprometeu a antiga crucial necessidade do trabalho e do emprego pelo sistema capitalista, le vando ao eclipse tais modalidades de inserção do ser humano na dinâmica econômico-social. Em resultado de tais transformações, não haveria mais como se falar em centralidade do trabalho e do empre go no mundo atual.

O parâmetro organizacional, também de razoável atratividade lógica, conta ainda com certa adesão junto a vertentes oriundas do pensamento crítico clássico, inclusive marxista.

Por essa diretriz, entende-se que as transformações provocadas no modelo fordista/taylorista, hegemônico até os anos 1970 nos países desenvolvidos, em face do advento do novo paradigma de or ganização empresarial, denominado toyotista/ohnista, tudo teria conduzido ao ocaso das megaplantas empresariais, ao desprestí gio da produção em massa, à maior qualificação e...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT