O poder da mídia

AutorHerivelton Rezende de Figueiredo
Páginas5-45
Capítulo 1
O poder da mídia
1.1. A função social da mídia
O campo de atuação da mídia reside na palavra pública,
selecionando e distribuindo a informação, tendo sua legiti-
midade conferida pelo direito de acesso à informação e da
própria sociedade que se contrapõe ao autoritarismo.
Atua como uma prática racional das sociedades moder-
nas de mediação simbólica dos discursos de exigências ra-
cionais e críticas, ou seja, corresponde a uma delegação
conferida pela sociedade em virtude da sua incapacidade
de gerir a multiplicidade de interesses divergentes. Isso
tem como consequência a aproximação dos diversos grupos
da sociedade em torno de uma questão, mas ao mesmo
tempo pode ser visto como uma ameaça com certos grupos
ou atores sociais (ESTEVES, 2007, p.149-150)1.
Seu poder é simbólico, isso implica em dizer que é um
poder de construção da realidade que tende a estabelecer
um sentido imediato do mundo uma concepção homogê-
nea do tempo e do espaço que torna possível a concordân-
cia entre as inteligências (BOURDIEU, 1989, p. 9)2.
5
1 ESTEVES, João Pissarra. A ética da comunicação e os media moder-
nos: Legitimidade e poder nas sociedades complexas. 3. ed. Lisboa: Funda-
ção Calouste Gulbenkian, 2007, p. 149-150.
2 BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Tradução Fernando Tomaz.
Lisboa: DIFEL, 1989, p. 9.
Luhmann3 ao analisar a teoria dos meios de comunica-
ção como fundamento do poder parte da ideia de que todos
os sistemas sociais somente se constituem por meio da co-
municação, esta por sua vez é produzida quando se com-
preende a seletividade da mensagem.
Os símbolos dentre um contexto de seleção e motiva-
ção assumem a função mediadora entre os parceiros cha-
mados aqui de Alter e Ego e o resultado é a reprodução do
tema sob condições simplificadas. O Alter possui uma inse-
gurança, porque dispõe de alternativas e o Ego influência a
escolha do tema. A coação nesse modelo serve para centra-
lizar a decisão, entretanto a seleção do Alter implica na re-
dução das opções do Ego, portanto a existência de uma es-
trutura de poder torna sem sentido para o subalterno for-
mar uma vontade própria, em outras palavras, ela neutrali-
za a vontade, embora não necessariamente rompe o querer
do subalterno, pois regula os efeitos das contingências de
forma que atua como um catalisador ao acelerar ou retar-
dar a incidência dos fenômenos, modificando o grau de in-
cidência e probabilidade que seria de se esperar nas rela-
ções causais. Logo, pode ser uma oportunidade de aumen-
tar a probabilidade de ocorrência de determinados eventos
seletivos, ou seja, abriga uma tendência de auto-reforço
(LUHMANN, 1982, p. 8)4.
É típico dos meios de comunicação que sua problemá-
tica seja formulada em uma constelação de interações es-
pecíficas destacando-se das coisas óbvias da vida na qual o
6
3 LUHMANN, Niklas. Poder. Tradução Martine Creusot de Rezende
Martins. Brasília: Universidade de Brasília, 1982, p. 8.
4 Luhmann utiliza de um conceito da psicologia para explicar o processo
de seleção e de que forma emissor e receptor contribuem para esta ope-
ração.
objeto específico constitui-se em generalizações. Isso pode
ser explicado, segundo Luhmann, na teoria da evolução so-
cial de que apesar da alta contingência e especialização é
preciso transmitir a informação de forma a manter o nível
de desenvolvimento alcançado nas sociedades modernas5.
Assim, o ato de ver televisão além de ser uma “ativida-
de familiar” catalisa as relações sociais por meio da conver-
sa tornando a mídia um universo simbólico de axiologia da
vida social atingindo a mais ampla cobertura temática
transformando a sociedade em espectadores perplexos do
“visível”. Portanto, a ação simbólica dos meios de comuni-
cação de massa em especial a televisão atrai a atenção para
os fatos que interessam a todos formando um consenso.
Mas, depois de selecionado como podemos responder à
problemática de maneira uniforme?
Segundo Bourdieu, os jornalistas buscam o sensacional
que convida à dramatização no duplo sentido: põe em cena
um acontecimento e exagera sua importância por meio das
palavras, assim interessam-se pelo excepcional que rompe
com o ordinário (BOURDIEU, 1997, p. 25-26) 6.
Contudo, apesar da polêmica anunciada, muitas vezes a
presença de vários interlocutores gera uma redução das di-
vergências nos jogos de palavras entre os participantes e o
mediador no qual o problema acabou por desvanecer dian-
te da força pragmática da mídia7.
Esta força decorre da padronização das notícias que
ocorre devido à concorrência entre seus pares na busca pela
7
5 LUHMANN, 1982, p. 13.
6 BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão: Seguido de a influência do jor-
nalismo e os jogos olímpicos. Tradução Maria Lúcia Machado. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar Editor, 1997, p. 25-26.
7 ESTEVES, 2007, p. 168.

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