A publicidade, via internet, da reprodução humana assistida: um ensaio empírico
| Autor | Marcos Catalan/Carla Froener |
| Páginas | 89-105 |
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A PUBLICIDADE, VIA INTERNET
,
DA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA:
UM ENSAIO EMPÍRICO
O empiricismo se baseia na capacidade dos observadores con-
cordarem (ou não) a respeito da representação de suas experiências
e (ou) percepções do mundo e, em tal contexto, explorações em-
píricas exigem a construção de moldes que permitam a quaisquer
pesquisadores, sujeitos às mesmas condições, fazerem observações
semelhantes às formuladas. O desafio é exponencialmente maior nas
ciências sociais, pois, ao contrário das ciências duras, elas não lidam
com experiências que possam ser reproduzidas em laboratório, mas
com fenômenos sociais representativos de um dado histórico, parti-
cular e complexo e sempre exposto à subjetividade do pesquisador.
As referidas dificuldades impõem – quando se recorre ao em-
piricismo como técnica1 – a elaboração de critérios tão objetivos
quanto transparentes no balizamento da pesquisa.
Assim, e tendo em vista que este estudo explora a espetacula-
rização da reprodução humana assistida, fenômeno que implica a
utilização de imagens, encenações e símbolos em prol dos desígnios
do Capital, buscou-se comprová-lo qualitativamente mediante a
verificação detalhada do conteúdo de amostras2 metodologicamente
1. HALAVAIS, Alexander. Prefácio. In RECUERO, Raquel; FRAGOSO, Suely; AMARAL
ADRIANA. Métodos de pesquisa para Internet. Porto Alegre: Sulina, 2011. p. 12-13.
2. GOLDEMBERG, Miriam. A Arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciên-
cias sociais. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 14-54. Antigamente “as ciências se
pautavam em um modelo quantitativo de pesquisa, em que a veracidade do estudo era
verificada pela quantidade de entrevistados”. Na pesquisa qualitativa, “a preocupação
do pesquisador não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas
com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de
uma instituição, de uma trajetória, etc.”.
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A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA NA SOCIEDADE DE CONSUMO
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buscadas em sites de clínicas de reprodução humana espalhadas por
todo o Sul do Brasil.
A obra “Métodos de Pesquisa para Internet” deu a orientação
necessária para evitar confusão e sincretismos metodológicos que
poderiam derivar da sobreposição de leituras. O livro mostra haver
três formas de enfrentar a Internet como objeto de estudo: como
cultura, como artefato ou como mídia.
Observada através da primeira lente, a Internet revela-se en-
quanto espaço hermeticamente fechado e distinto do mundo offline,
exibindo padrões sociais exclusivos das redes digitais3.
A percepção da Internet como artefato cultural, por sua vez,
permite estudar a sua inserção na vida cotidiana. Aqui, a Internet não
é tratada como entidade à parte, constituindo-se a partir da interação
entre o mundo online e offline. A ideia de artefato cultural “compre-
ende que existem diferentes significados culturais em diferentes
contextos de uso. O objeto Internet não é único, mas multifacetado
e passível de apropriações”. Os websites, portanto, são o seu campo
de análise.
A terceira lente permite explorar a Internet como mídia, legiti-
mando a análise da produção de conteúdo digital pelos próprios usu-
ários. Aqui, os campos de análise são, por exemplo, as redes sociais4.
Considerando-se que a publicidade no universo da reprodu-
ção humana assistida parece ser incomum nas salas de bate-papo
eletrônicas e que a sua presença nas redes sociais parece ser ainda
incipiente, optou-se por tratar a Internet como artefato cultural e
concentrar a mineração do dado empírico por meio de amostras nos
websites. A limitação do campo de análise às páginas da Internet –
terreno amplamente utilizado pelas clínicas de reprodução assistida
na publicização de suas atividades – também considerou o seu fácil
3. RECUERO, Raquel; FRAGOSO, Suely; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para
Internet. Porto Alegre: Sulina, 2011. p. 46. Típico das primeiras pesquisas realizadas
na Internet na década de 90, seu campo de análise são os textos produzidos nas salas de
bate papo e outros ambientes rudimentares de interação que foram suplantados pela
tecnologia e caíram em desuso.
4. RECUERO, Raquel; FRAGOSO, Suely; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para
Internet. Porto Alegre: Sulina, 2011. p. 42; 46.
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