Uberização: novos meios de informalização do trabalho

AutorLudmila Costhek Abílio
Ocupação do AutorSocióloga, doutora em Ciências Sociais (UNICAMP), pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) do Instituto de Economia da Unicamp, onde realiza seu segundo pós-doutorado
Páginas21-28
Uberização: Novos Meios de Informalização do Trabalho 21
UBERIZAÇÃO: NOVOS MEIOS DE INFORMALIZAÇÃO DO TRABALHO
Ludmila Costhek Abílio(1)
Introdução
A uberização do trabalho é uma tendência que hoje atravessa globalmente o mundo do trabalho de alto
a baixo, atingindo profissões e ocupações de diferentes qualificações e, da forma como vem se desenvolvendo,
realiza-se como mais um passo bem-sucedido na exploração do trabalho, tornando a vida dos trabalhadores e
trabalhadoras mais inseguras e precárias. O termo também nomeia um novo meio de controle, gestão e orga-
nização do trabalho. Este artigo analisa os principais elementos da uberização, atentando para a sua novidade
e ao mesmo tempo para a generalização de características que são historicamente estruturantes de mercados
de trabalho periféricos, os quais agora operam em uma dimensão global.
De saída, a uberização tem de ser compreendida na sua relação com os Estados e as mais de quatro dé-
cadas de políticas neoliberais. Especificamente, no caso brasileiro, a recente reforma trabalhista, sob o manto
da “modernização” do trabalho, estabelece meios legais de informalização do trabalho, promovendo a elimi-
nação de direitos, além de legitimar um discurso do empreendedorismo e da livre negociação entre partes que
não estão em igualdade. (KREIN, ABÍLIO, FREITAS, BORSARI e CRUZ, 2018). A promoção da uberização é um
dos elementos que estão no cerne da reforma trabalhista brasileira (FACHIN e ABILIO, 2017)
O encontro entre modernização e precariedade também é fundamental para compreendermos a ube-
rização. É preciso olhar para o desenvolvimento tecnológico, para as startups, para as plataformas digitais,
para a revolução 4.0 e as novidades que trazem. Mas também é necessário entender que a uberização dá
visibilidade e generaliza processos que estão em curso no mundo do trabalho há mais de quarenta anos. Mais
do que isto, a uberização nos faz enxergar elementos que são estruturantes da formação do mercado de tra-
balho brasileiro, entre outros países periféricos, e que agora têm uma visibilidade e dimensões globais (ABÍLIO,
2017, 2018). Desta forma, os elementos que são cotidianamente mobilizados para garantir a sobrevivência
de um trabalhador na periferia correspondem aos elementos que parecem ser o que há de mais moderno nas
relações de trabalho: a polivalência, a flexibilidade, o trabalho por metas, o autogerenciamento, a instabilidade
e segurança que se encontram com o engajamento permanente na gestão da própria sobrevivência.
Portanto, temos de olhar para o desenvolvimento tecnológico, o papel do Estado e as formas de atuação
das empresas — e seus novos meios de monopolização, mas também para uma generalização que agora se
torna visível e evidente, de características que os trabalhadores e trabalhadoras das periferias brasileiras há
muito tempo conhecem.
1. A dispersão do trabalho e a centralização de seu controle
Podemos resumir a uberização como um processo de transformação do trabalhador em um nanoem-
preendedor de si próprio (ABÍLIO, 2017), o qual se engaja com o trabalho, se autogerencia, arca com riscos
e custos, ao mesmo tempo em que não conta com qualquer tipo de segurança sobre sua remuneração. Esta
transformação se apresenta como um novo passo nas terceirizações, com novas lógicas, e que pode concorrer
ou se complementar com o modelo clássico. O que vimos nas últimas décadas, no encontro entre flexibiliza-
ção do trabalho, globalização das cadeias produtivas, aliadas às políticas de eliminação de direitos e proteções
(1) Socióloga, doutora em Ciências Sociais (UNICAMP), pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CE-
SIT) do Instituto de Economia da Unicamp, onde realiza seu segundo pós-doutorado.

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