Voltaire: a racionalidade como forma de alcançar a tolerância nas sociedades democráticas

AutorAna Paula Silva Ferreira, Maria Luísa Estanislau Reis
Páginas230-256
CAPÍTULO 9
Voltaire: a racionalidade como forma
de alcançar a tolerância nas
sociedades democráticas
Ana Paula Silva Ferreira1
Maria Luísa Estanislau Reis2
1. Introdução
O presente artigo aborda autor consagrado como um dos gran-
des pensadores do Iluminismo francês no século XVIII: François-Marie
Arouet (1694 –1778), que nasceu em Paris, no dia 21 de novembro de
1694, e adotou, como escritor, o nome Voltaire, com o qual cou conheci-
do para a posteridade. Sua obra é de prodigiosidade vasta, perpassando
diversos temas vivenciados ao longo de seus mais de sessenta anos de
produção intelectual e combativa, o que fez com que, desde o século
XVIII, fossem intermináveis as controvérsias ao seu respeito.
Utilizamos como fonte principal neste trabalho a obra Traité sur
la tolérance, A l’occasion de la mort de Jean Calas” (1763), na qual Voltaire
critica o fanatismo e mostra os estragos por ele provocados ao longo do
curso da História. Ressalta-se, entretanto, que também foram considera-
das outras produções, do mesmo autor e de outros, seja para esclarecer
a importância do legado voltairiano, seja para diferenciar seu posiciona-
mento do de outros pensadores.
Para que possamos compreender o posicionamento de Voltaire,
é necessário que abordemos o momento histórico, político e social em
que ele estava inserido, bem como seu desenvolvimento losóco atra-
vés da passagem dos anos de sua vida. Posto isso, passemos ao enfoque
da perspectiva histórica do pensador.
Nascido em família francesa de posses, em 1694, caçula de cinco
1 Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
² Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Ana Paula Silva Ferreira & Maria Luísa Estanislau Reis • 231
irmãos, o lósofo teve contato com a academia desde cedo: foi educado
na casa de seu padrinho por alguns anos e, posteriormente, foi para o
colégio jesuíta Louis-le-Grand a mando de seu pai. Na juventude, após
receber pomposa herança, se tornou frequentador do “círculo de jovens
pensadores”3. Sua personalidade impulsiva lhe trouxe alguns contra-
tempos, dentre eles, cumprimento de pena na Bastilha e exilo.
A despeito dos problemas que lhe causou, essa personalidade
o fez conhecer diversos lugares da Europa, possibilitando-o entrar em
contato com as ideias de outros importantes pensadores de sua época,
como Newton e Locke. Essas viagens igualmente proporcionaram ao
lósofo a chance de conhecer a realidade de outras culturas e criticar a
sua pátria no que se refere a diversas questões, especialmente políticas e
religiosas.
Assim, ainda em sua juventude – em 1713 – Voltaire esteve na
Holanda, em companhia do irmão de seu padrinho, o marquês de Châ-
teneuf, aonde conheceu uma jovem protestante com quem manteve um
romance4. Devido à religiosidade de sua família e à organização polí-
tico-social da época, Voltaire foi trazido de volta à França para que a
distância pudesse dar m ao envolvimento amoroso.
Tempos depois, ainda na França, Voltaire cumpriu pena de onze
meses na Bastilha por ter distribuído duas composições, de sua auto-
ria, que expressavam ideias vistas como atrevidas em relação ao regente
francês. Em 1726, retornou à prisão devido a desentendimentos com um
nobre que havia se ofendido com o sarcasmo do lósofo.5
Após seu segundo tempo na Bastilha, François-Marie foi viver
em exílio na Inglaterra, aonde republicou sua obra “La Ligue” (que ha-
via sido publicada em 1723), porém sob o nome de “Henríade”, a qual
foi produzida em honra ao rei Henrique IV. Em 1729, voltou à França,
mas foi no exílio que entrou em contato com vários pensadores da épo-
ca, que não somente inuenciaram sua obra, como também eram fonte
de pesquisa do lósofo. Voltaire tinha especial gosto pelas teorias de Lo-
cke e Newton, tendo publicado, em 1733/1734 as “Cartas losócas so-
bre os ingleses”, em que ele comparava o caráter libertário da sociedade
inglesa da época à censura absolutista que se vivia na França; ainda nes-
sa obra, ele trazia princípios do pensamento de Bacon, Locke e Newton,
³ ANTISERI, Dario, REALE, Giovanni. História da losoa: de Spinoza a Kant. V. 4. São Paulo: Paulus,
2004. p. 256.
Ibid.
Ibid.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT