Da atividade econômica

AutorRamsés Maciel de Castro
Páginas23-92
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DA ATIVIDADE ECONÔMICA
“Eram perseverantes em ouvir os ensi-
namentos dos apóstolos, na comunhão
fraterna, no partir do pão e nas orações.
(...) Todos os que abraçaram a fé eram
unidos e colocavam em comum todas as
coisas; vendiam suas propriedades e seus
bens e repartiam o dinheiro entre todos,
conforme a necessidade de cada um.”
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Primeiramente, vale ressaltar que a atividade econômica será boa
ou má dependendo dos valores éticos que a inuenciem. Muito
lúcida a visão da doutrina social católica a este respeito. Na Encí-
clica denominada “Caritas in Veritate, o Santo Padre Bento XVI
arma que
De per si o mercado não é, nem se deve tornar o lugar da
prepotência do forte sobre o débil. A sociedade não tem de
se proteger do mercado, como se o desenvolvimento deste
implicasse ipso fato a morte das relações autenticamente
humanas. É verdade que o mercado pode ser orientado de
modo negativo, não porque isso esteja em sua natureza, mas
porque uma certa ideologia pode dirigi-lo em tal sentido. (...)
A doutrina social da Igreja considera possível viver relações
autenticamente humanas de amizade e camaradagem, de
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solidariedade e reciprocidade, inclusive no âmbito da ati-
vidade econômica e não apenas fora dela ou depois dela.
(2009, p. 42)
Apesar da possibilidade de haver relações econômicas
harmônicas, a atividade econômica, muitas vezes, é caracteriza-
da por relações conituosas, por envolver interesses até mesmo
opostos, os quais devem ser conciliados. Nos termos expostos
pelo Catecismo da Igreja Católica, a atividade econômica exer-
cida dentro dos limites da justiça social estaria destinada “(...) a
servir às necessidades dos seres humanos. A vida econômica não
visa somente multiplicar os bens produzidos e aumentar o lucro
ou o poder; antes de tudo, ela está ordenada ao serviço das pessoas
(...).(1999, p. 627, parágrafo 2426)
Não obstante a sociedade brasileira e a mundial estejam
distantes dos ideais da fraternidade, uma nova economia, basea-
da em relações interpessoais e interinstitucionais solidárias é pos-
sível, desde que, gradativamente, o homem se abra ao amor. Nesse
sentido, merece destaque a defesa da italiana Chiara Lubich a res-
peito da economia de comunhão:
Ao contrário da economia consumista, baseada na cultura
do ter, a economia de comunhão é a economia do dar. Isto
pode parecer difícil, árduo, heróico. Mas não é assim, porque
o homem, feito à imagem de Deus, que é Amor, encontra
a própria realização justamente no amor, na doação. Esta
exigência está no mais profundo do seu ser, tenha ele fé em
Deus ou não. É justamente nesta constatação, comprovada
pela nossa experiência, que está a esperança de uma difusão
universal da economia de comunhão. (2004, p. 51)
É importante ressaltar que mesmo no modelo capitalista
regente, é possível construir novos modelos de relações
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empresariais pautados em valores de solidariedade. Há iniciati-
vas interessantes que se tornam ícones a serem imitados, mesmo
dentro do atual modelo econômico nacional e mundial. Como
exemplo, pode ser destacado o já citado movimento dos focola-
res, fundado pela italiana Chiara Lubich, denominado Economia
de Comunhão. Esse movimento defende que o lucro das empre-
sas deve ser distribuído em três partes: ajuda aos necessitados e
criação de postos de trabalho; a formação de “homens novos”
com a educação para a mentalidade solidária; e, o reinvestimento
na empresa com justos salários e respeito às leis vigentes.
De acordo com o que armam Leibholz e Passarelli, “A
grande maioria das empresas são sistemas de dominação e opres-
são orientados para o enriquecimento e poder” (1995, p. 29) e, in-
felizmente, como bem argumentam Marcelo Afonso Almeida e
Sérgio Proença Leitão, A obsessão pela acumulação, no curto pra-
zo, benecia a poucos e prejudica a muitos e, a longo prazo, acaba
por prejudicar a todos.(2003, p.1148)
Em contrapartida a essa realidade da busca pelo lucro aci-
ma de tudo, há crescimento também de iniciativas salutares no
campo empresarial. Segundo Carolina da Cruz Cardoso e Mú-
cio Tosta Gonçalves, em 2001, No Brasil, o projeto Economia de
Comunhão conta atualmente com 123 empresas (...) no mundo é
de 769 unidades (...)”. (2007, p.126) Espera-se que se fortaleça o
modelo de gestão empresarial fundado na maior valorização da
pessoa humana do que no crescimento econômico em si mesmo.
Com relação a empresas que se engajam em projetos
como o da Economia de Comunhão conseguirem ou não so-
breviver no mercado, vale citar palavras de Chiara Lubich que
servem de encorajamento para os que buscam outros valores
além e acima do lucro:

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