Julgados posteriores à PET n. 3388: sua influência reverbera

AutorDaize Fernanda Wagner
Páginas161-189
Capítulo 3
JULGADOS POSTERIORES
À PET N. 3388
sua influência reverbera
Bom dia, meus parentes,
o índio que vive aqui em Mato Grosso, como o Xavante, como o Xingu que aqui se
encontra, Srs. Deputados, Parlamentares, gente que trabalha com índio que são
missionários, são povo que apoia o povo indígena. Então, quero relatar aqui a
problemática do território de Roraima que vem sendo há muito tempo esquecido de
muitos anos; os índios vem lutando para sobreviver na sua própria terra e nós vivemos
marginalizados, escravizados, porque não temos nossa demarcação da terra Macuxi,
que é uma área que estamos lutando há muito tempo, uma área única que tem os
Macuxi, Wapyxana, lgarikó, Taurepan, que vivem nessa área única. Raposa-Serra do
Sol e nós vivemos brigando, há muito tempo, e a FUNAI não fez nada por nós; ainda
somos isolados naquela parte do Território de Roraima e esquecidos pelas autoridades
que sempre vêm marginalizando o índio em favor do fazendeiro; também os políticos
ficam nos perseguindo em Roraima, dizendo que ali não tem índio, mas nós somos
índios nativos, fixo, originários naquela terra e somos os donos daquela terra.
Quando o Brasil foi descoberto em 1500 pelos portugueses, os índios já existiam
nesse tempo e ele é o povo que fixou na terra. Daquele tempo para cá os índios vêm
sofrendo, vêm sendo escravos, esqueceram os índios, as leis foram nos enrolando e
sabemos que os Parlamentares, os Deputados que se encontram em Brasília, têm de
saber da problemática do povo indígena, porque há muito vem sofrendo. Precisamos
de demarcação de todas as áreas indígenas, principalmente em Roraima, porque
somos esquecidos e precisamos de ajuda. O povo indígena de Roraima como de outra
nação, também. O que precisamos é ter nossa terra, porque nossa terra é nossa vida,
porque nós vivemos em cima dela.
Estou aqui representando 40 mil índios que existem no Território de Roraima. Muito
deles vêm dizendo que tem pouco índio ali, nunca andou de pé como a gente anda, lá
somos sofridos. Eu, pelo motivo de dizer, o policial do Território de Roraima vem
perseguindo o índio, sendo a favor do fazendeiro e contra o índio. Sabemos que
muitas casas de índios foram destruídas, queimadas, índios foram presos e a FUNAI
nada resolve da demarcação das terras.
Vejo no jornal Homero Juca Filho dizendo que demarcou várias terras indígenas.
Roraima nunca foi demarcada. Precisamos que ele cumpra seu dever, como é de sua
responsabilidade, como Presidente que vem ganhando dinheiro na costa do índio,
como funcionário que trabalha aqui em Brasília vive ganhando dinheiro na costa do
índio, sem fazer nada pelo índio. No Território de Roraima, a maioria dos funcionários
de lá é contra o povo indígena, negociando por fora com fazendeiro, fazendo acordos
sem consultar o índio.
Temos outros problemas que vêm caindo em cima da gente. A Calha Norte, que vem
ali preocupado com a fronteira; não é preocupado com a fronteira, é preocupação com
mineração onde foi explorado por eles ali dentro e não querem fazer a demarcação.
Nós, índios, estamos protestando Calha Norte, porque ali vai fazer invasão, fazer
estradas e vai acontecer como aconteceu de Manaus a Boa Vista, onde mataram
muitos índios, os Waimiry – Atroary que foram mortos através de abertura de estradas
nas áreas indígenas. Tem que ser respeitado o povo indígena. É preciso que a Lei 198
seja assegurada nesta Constituição que está sendo feita, e seja respeitado o povo
indígena de todo o Brasil.
Eu, como Liderança indígena, venho trazer esta proposta para a Assembleia Nacional
Constituinte: não esquecer a imagem do índio, não integrar o índio, não colonizar o
índio, porque se colonizar, o índio vai viver isolado, como já vem acontecendo, porque
querem integrar o índio na sociedade branca para aproveitar a fraqueza do índio
porque já está integrado. Por isso, venho falar a respeito disso, porque queremos
respeito ao direito do índio. Estamos organizando um conselho regional, um conselho
territorial e isto tem que ser colocado na Constituição. Tem que ser aprovado o respeito
ao povo indígena. Vimos muito sofrimento, esquecidos, sem ter nada, tem que ter
consciência do índio brasileiro que é nativo e fixo. Índio, quando chegamos, já vivim
nesta terra, nesta terra nós vivemos como também vivem companheiros Yanomami,
também, ali, onde estão fazendo o paredão de usina elétrica. Protestamos contra isso,
porque vai trazer outra marginalização do povo Yanomami, Igarikó, Wapitana, Taurepa,
Mayongong, Xixin-ana, Macuxi, que formam nações de no máximo 40 mil índios. Por
que a Calha Norte preocupou em dar cobertura para firmas mineradoras dentro das
áreas indígenas? Porque estão interessados em acabar com o povo indígena.
Nós precisamos ter nossa demarcação nesta Constituição. Tem que sair Já chega de
os índios sofrerem, os índios são um povo que tem consciência, não é um povo que
tem ganância, o branco tem ganância de tomar a terra do índio. O índio tem
consciência, porque ele não tem ganância de roubar nada que é do branco.
Como no Território de Roraima, estou muito sofrido. Tenho quatro processos, brigando
pelos meus parentes; processos das autoridades de lá me perseguindo e os
garimpeiros e os fazendeiros me perseguindo; também os políticos me perseguem
para que eu pare com a minha boca, mas eu não vou parar. Vou lutar até o fim da
minha vida pela demarcação das terras.
Quero que os parlamentares, Deputados e Senadores, e o Presidente da República,
José Sarney, defina a nossa demarcação, porque já tivemos reunidos em assembleia
aqui em Brasília, umas 13 nações indígenas, apoiando a demarcação Macuxi e a
demarcação Yanomami, porque são povos inocentes, que não sabem se defender.
Quero que os Parlamentares não consintam com o projeto Calha Norte, nós estamos
protestando Calha Norte. Nossa área está completamente esquecida no Território de
Roraima. Queremos ajuda dos parentes que se encontram aqui, queremos ajuda
completamente, de coração, queremos ajuda dos Deputados, queremos ajuda dos
Senadores, queremos ajuda do Presidente, do Ministério do Interior e ajuda dos
militares, também, porque a Constituição está aí. Querem derrubar a imagem do índio,
mas nós precisamos de ter nossa vida. Calha Norte eu considero como morte do índio
vai matar os índios, porque é através dos militares.
Então, eu, como índio Gilberto Macuxi, estou fazendo esse depoimento, para que seja
válido, não seja esquecido, porque isso é um povo honesto, o índio que fala a verdade.

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