Professores refugiados: desafios e caminhos destes profissionais no Brasil

AutorCláudia Tavares do Amaral, Marco Antônio de Santana e Rômulo Sousa de Azevedo
Ocupação do AutorDoutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (ULisboa)/Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia/Servidor Público no Instituto Federal de Goiás
Páginas359-369
Cláudia Tavares do Amaral1
Marco Antônio de Santana2
Rômulo Sousa de Azevedo3
1. Doutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (ULisboa).
Mestre em Educação pela PUC Minas. Professora Adjunta da Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, com atuação na gra-
duação e no Programa de Pós-Graduação em Educação. E-mail: claudiatamaral@gmail.com
2. Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Mestre em Direito Público pela
PUC Minas. Graduado em Direito e Pedagogia. Bolsista CAPES. E-mail: bh.santana@yahoo.com.br
3. Servidor Público no Instituto Federal de Goiás. Mestrando no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de
Goiás – Regional Catalão. Bacharel em Administração. E-mail: romulo.sousadm@gmail.com
1. INTRODUÇÃO
Como convite à reflexão, consideremos o seguinte cená-
rio: uma mulher, casada, mãe de duas crianças e professora
da educação infantil em uma escola síria. Em 2011, uma
guerra civil foi deflagrada no país e, um dia após o outro,
viver ali se tornou insustentável. O aumento dos conflitos
armados e as constantes violações aos direitos humanos
provocaram a saída de toda família do país; se tornaram
refugiados. Entre os locais que ofereciam flexibilidade de
entrada, estava o Brasil e fizeram dele seu novo país. Após
a chegada em território brasileiro, os poucos recursos de
que dispunham foram utilizados para aluguel de uma casa
e compra de itens de sobrevivência e manutenção. Logo,
tanto a mulher como seu marido precisavam de um empre-
go. Pela sua qualificação, a mulher daria aula em qualquer
escola da Síria, mas no Brasil é diferente devido a vários
fatores. Dias, meses, anos se passam e essa professora não
consegue se inserir no mercado de trabalho. A família cria,
então, outras formas de obter renda, seja no trabalho for-
mal, mas fora de suas qualificações e vocação, seja no tra-
balho informal, sem segurança e sem direitos.
Dessa breve história, extrai-se uma indagação: quais
questões estão por trás das dificuldades do refugiado em
conseguir uma posição no mercado de trabalho dentro de
sua área de formação? A resposta fundamenta-se na ideia
de que, mesmo sendo um profissional qualificado, barrei-
ras burocráticas, culturais e sociais dificultam a inserção
do refugiado no mercado de trabalho e, ainda mais, sua
integração à sociedade. O fato de estar no Brasil não signifi-
ca que a pessoa esteja integrada. Para ilustrar essa realidade,
será estudada a situação de refugiados que são professores,
mas a análise, com algumas variações, pode ser estendida
para refugiados com outras formações.
O presente estudo foi norteado por dois objetivos: ana-
lisar os fatores que compõem as barreiras burocráticas, cul-
turais e sociais e, também, tecer reflexões acerca de algumas
alternativas já implementadas no Brasil e em outros países.
Dessa forma, uma das motivações para este estudo é a ne-
cessidade de compreender como e de que forma as barrei-
ras atuam, para, a partir disso, possibilitar a elaboração de
meios para superá-las, de modo a propiciar ao refugiado
uma inserção no mercado de trabalho condizente com suas
competências e habilidades.
Além disso, ao analisar os fatores que compõem as bar-
reiras culturais e sociais, pode-se desmistificar algumas
ideias. Por exemplo, o fato do refugiado ser da América do
Sul, como o venezuelano, da África, como o congolês, ou
do Oriente Médio, como o sírio, não o desqualifica como
profissional. É necessário até mesmo refletir acerca da pa-
lavra “refugiado” e esclarecer noções equivocadas sobre o
termo.
A relevância deste escrito também reside nas áreas en-
volvidas, pois os objetivos desta pesquisa demonstram a
interdisciplinaridade do tema, envolvendo Direito do Tra-
balho, Direito Internacional e Educação. Entender a situa-
ção do profissional refugiado de maneira interdisciplinar e
Professores refugiados:
desafios e caminhos destes
profissionais no Brasil 29

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