Reflexões sobre a não revelação do diagnóstico ao paciente idoso

AutorDiogo Gonzales Julio e Natalia Carolina Verdi
Ocupação do AutorPós-Graduado em Direito da Medicina pelo Centro de Direito Biomédico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Pós-Graduado em Direito Médico, Odontológico e Hospitalar pela Escola Paulista de Direito, Especialista em Processo Civil pela UNISAL. / Mestre em Gerontologia pela PUCSP, Especialista em Direito da Medicina pelo Centro de ...
Páginas149-164
REFLEXÕES SOBRE A NÃO REVELAÇÃO DO
DIAGNÓSTICO AO PACIENTE IDOSO
Diogo Gonzales Julio
Pós-Graduado em Direito da Medicina pelo Centro de Direito Biomédico da Facul-
dade de Direito da Universidade de Coimbra, Pós-Graduado em Direito Médico,
Odontológico e Hospitalar pela Escola Paulista de Direito, Especialista em Processo
Civil pela UNISAL, Especialista em Direito do Cooperativismo pela ESA e SESCOOP
de São Paulo, Membro da Comissão de Direito Médico e da Saúde da OAB São Paulo,
3ª Subseção de Campinas/SP, Membro da Comissão de Direito do Cooperativismo da
OABSP, Professor, Palestrante, Autor. Advogado.
Natalia Carolina Verdi
Mestre em Gerontologia pela PUCSP, Especialista em Direito da Medicina pelo Centro
de Direito Biomédico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Especia-
lista em Direito Médico, Odontológico e Hospitalar pela Escola Paulista de Direito,
Responsável pelo Blog Direitos do Longeviver, junto ao Site Portal do Envelhecimento,
Professora, Palestrante, Autora. Advogada.
Sumário: 1. Introdução. 2. Peculiaridades sobre o envelhecimento – compreensões gerais 3.
Envelhecimento e saúde – algumas considerações. 4. Pacientes terminais idosos, suas famílias
e a atuação médica – ponderações. 5. Considerações nais. 6. Referências.
1. INTRODUÇÃO
No presente trabalho nos propusemos a trazer ref‌lexões a respeito da seguinte
questão: pode o médico, esconder de um paciente idoso, a pedido de sua família, o seu
diagnóstico de terminalidade?
Para responder à pergunta, ao longo do texto, abordamos algumas peculiaridades
sobre o envelhecimento, processo multifatorial inerente à existência humana que, por
suas particularidades, necessita de algumas compreensões, mesmo que gerais.
Tecemos ainda algumas considerações a respeito do entrelace entre o envelhecimento
e a saúde, assuntos indissociáveis à questão a que nos propusemos, a f‌im de que, buscan-
do por um entendimento que seja o mais contemplativo possível a respeito dos temas,
mas sem a pretensão de esgotá-los, possamos tentar responder ao que nos propusemos.
Por f‌im, apresentamos algumas ponderações sobre os pacientes idosos considera-
dos terminais, quando têm consigo familiares que buscam pelos médicos responsáveis
por aqueles doentes, a f‌im de evitar que seus longevos sejam conhecedores dos próprios
diagnósticos e ainda a respeito da conduta prof‌issional neste cenário.
As considerações f‌inais são passíveis de conduzir à muitas outras, complementares
ou diversas, já que é também objetivo deste trabalho, além de trazer as ref‌lexões que
DIOGO GONZALES JULIO E NATALIA CAROLINA VERDI
150
o permeiam, suscitar todas as que delas possam advir, na mesma dinâmica em que se
fundamentam e evoluem as relações humanas de todas as ordens, em especial, as que se
evidenciem junto à relação médico-paciente em um contexto relacionado a um paciente
idoso com diagnóstico de terminalidade.
2. PECULIARIDADES SOBRE O ENVELHECIMENTO – COMPREENSÕES GERAIS
A humanidade tem vivido mais e melhor na medida em que os anos passam, sendo
o envelhecimento da população mundial um fato notório.
Tem-se que
“De acordo com o IBGE, a expectativa de vida ao nascer em 2017 foi de 76,0 anos, o que representa um
aumento de 30,5 anos em relação ao observado em 1940. De acordo com a ONU, a maior esperança
de vida ao nascer encontrada entre os países pertence ao Japão, 83,7 anos, seguido de perto da Itália,
Singapura e Suíça”1.
O envelhecimento populacional mundial em muito decorre dos inúmeros avanços
das mais variadas ordens científ‌icas, em especial, da medicina e das ciências que são a
ela correlatas.
Tão verdade que, sempre que se faz presente uma situação na qual a morte huma-
na é uma realidade, iminente ou concreta, o que se evidencia é o pensamento de que a
medicina fracassou, de que todos aqueles que lidam com ela poderiam ter feito mais e
de que falharam, de que era possível ter-se ido além e ter-se prorrogado o improrrogável,
ainda que aquele que venha ou esteja na iminência de vir a óbito seja uma pessoa idosa
e já sem nenhuma qualidade de vida.
Os avanços tecnológicos buscam, a custos altos e de maneira incessante, o não
adoecimento, o não envelhecimento e, por consequência, uma vida que não tenha a
morte como fato a ela inerente, já que é praticamente unânime a observação de rotinas
nas quais se “proliferam os receituários de como se livrar dos aborrecimentos do corpo
que envelhece, das doenças e da morte”2.
Pensar ou agir em sentido contrário implica, muitas vezes, em caminhar contra uma
forte corrente, de presença maciça junto à sociedade, que persegue a juventude eterna
ao consumir os conteúdos dispostos em frascos que dizem amenizar qualquer tipo de
dor, física ou emocional, vendidos em muitas esquinas. Muitas vezes, a mesma parcela
de pessoas que realiza procedimentos para que haja frescor e viço em peles maduras e
que persegue incansavelmente por força e por vitalidade em todas as musculaturas, de
todos os seres humanos, independentemente da idade que se tenha.
1. PAUFERRO, Márcia Rodriguez Vásquez. A terminalidade da vida sob o olhar da bioética, citando IBGE, Instituto
Brasileiro de Geograf‌ia e Estatística. Tábua Completa de mortalidade para o Brasil – 2017: breve análise da evolução
da mortalidade no Brasil. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/
liv101628.pdf. CAMILO, Carlos Eduardo Nicoletti e outros (Coord.). Biodireito, Bioética e Filosof‌ia em Debate.
São Paulo: Almedina, 2020, p. 321-322.
2. TORTORA, Silvana e outro. Capítulo XIII. Apontamentos da relação saúde-doença e a morte para um pensamento
da velhice e do envelhecimento. In: LOPES, Ruth Gelehrter da Costa e CÔRTE, Beltrina. (Org.). Longeviver, políticas
e mercado: subsídios para prof‌issionais, educadores e pesquisadores. São Paulo, Portal Edições, 2019, p. 369.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT