Amedicalização da família e seus efeitos sociais

AutorMaria Andrea Loyola
Páginas43-56
43
A MEDICALIZAÇÃO DA FAMÍLIA E
SEUS EFEITOS SOCIAIS
Maria Andrea Loyola
Sumário: 1. Introdução. 2. Interferência histórica da medicina sobre a
família. 3. A medicina e a transição demográfica. 4. Reprodução e família.
5. A família moderna e a medicina na atualidade. 6. Considerações finais.
1. Introdução
Atualmente, o tema da medicalização da família tem sido
associado à chamada reprodução assistida - um conjunto de técnicas
desenvolvidas pela biomedicina, onde a gravidez ocorre com a direta
mediação do médico e dos especialistas dessa subespecialidade da
ginecologia e obstetrícia.1
Entretanto, o processo de medicalização da família tem início,
ainda, no final do século XVIII, associado aos primórdios da expansão do
capitalismo e notadamente à urbanização que o acompanha. De fato, com
o surgimento das cidades e com os problemas de higiene e saúde que o
aglomerado populacional coloca, o Estado e as Instituições de Saúde,
começam a substituir a Igreja no controle das famílias, com base em
pressupostos, não mais religiosos, mas científicos, fornecidos pela
demografia e pela medicina.2 Já no final do sec. XIX e início do sec. XX
essas disciplinas passam a fundamentar as formas de atuação das
instituições de previdência social, em particular daquelas voltadas para a
infância e a higiene pública.3
Desde então, a interferência da medicina não para de crescer; e não
somente sobre a família mas sobre tudo que diz respeito ao corpo; se antes
1 Cf.: CORRÊA Marilena C. D. V. A tecnologia a serviço de um sonho: um estudo sobre a
reprodução assistida no Brasil. [Tese de Doutorado] Instituto de Medicina Social UERJ 1997.
2 FOUCAULT, Michel: Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 2001.
3 FOUCAULT, Michel: Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 2001.

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