Desequilíbrios de poder na mediação
Autor | Lisa Parkinson |
Ocupação do Autor | M.A. (University of Oxford), C.Q.S.W. (London and Bristol Universities) |
Páginas | 297-321 |
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CAPÍTULO
DESEQUILÍBRIOS DE
PODER NA MEDIAÇÃO
“Entre os desiguais, que tipo de sociedade pode determinar
o que deve ser recíproco na proporção de dar e receber.”
(John Milton, Paraiso Perdido, Canto VIII – 1667)
SUMÁRIO: 1. A de nição de poder em diversos contextos. 2.
O poder e as diferenças de gênero. 3. Casais que comparti-
lham o comando. 4. Desequilíbrios de poder na mediação
familiar. 5. Capacitar os participantes na mediação. 6. Até
que ponto os mediadores podem intervir? 7. Gerir os dese-
quilíbrios de poder na mediação. 8. Concordar com as re-
gras básicas da mediação. 9. Uso do poder pelo mediador.
10. Equilíbrio exível na mediação.
1. A DEFINIÇÃO DE PODER EM DIVERSOS CONTEXTOS
A palavra “poder” tende a ter associações negativas associadas
a “coerção” e “controle”. Quando o poder é usado para dominar ou
apreender bens ou territórios, dizemos que há um abuso de poder
por uma pessoa ou grupo. No entanto, num contexto positivo, o po-
der pode ter valores positivos em termos de capacidade, competên-
cia e responsabilidade. O poder que é exercido de forma consensual
e democrática pode servir para atender a necessidades coletivas ou
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mediação familiar
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mútuas. Com garantias adequadas, ele pode ser exercido benecamen-
te, ao passo que sem salvaguardas ou consenso, o poder pode ser usado
para dominar, manipular ou abusar de outras pessoas. Desequilíbrios de
poder são encontrados, frequentemente, em relacionamentos que fun-
cionam bem: casais raramente têm o mesmo poder em todas as áreas
do relacionamento. Diferentes capacidades e recursos podem ser uti-
lizados de maneira complementar para o benefício de toda a família.
Desigualdades não precisam causar ressentimento e competição, se os
diferentes pontos fortes de cada umas das partes são valorizados. Quan-
do um dos parceiros ou um dos pais tem mais recursos, pontos fortes
ou responsabilidades em algumas áreas, estes podem ser usados para
benefício mútuo do casal. Uma das principais funções do mediador é
ajudar os participantes a identicar seus recursos, bem como suas ne-
cessidades, para que possam considerar como esses recursos podem ser
utilizados de forma mais ecaz para o máximo benefício comum.
2. O PODER E AS DIFERENÇAS DE GÊNERO
As preocupações com os desequilíbrios de poder na mediação
familiar são frequentemente associadas com as questões de gênero.
Os homens tendem a ter uma posição mais forte nanceiramente do
que as mulheres, que cam em casa ou trabalham em tempo parcial
para cuidar das crianças. Homens tendem a ganhar mais do que as
mulheres e têm aposentadorias maiores. Eles podem ter mais infor-
mações sobre as questões nanceiras do casal, embora isso varie: às
vezes, é a esposa quem administra as nanças da família. Mediadores
precisam estar alertas para que possam identicar aqueles que vieram
para a mediação com o objetivo de intimidar o parceiro desprevenido,
fazendo com que este concorde com um acordo nanceiro rápido, ou
para aquele pai que dita as regras e as condições para que o outro pai
possa ver as crianças.
É bastante comum, nos conitos entre casais, questões relacionadas
com a diferença das situações econômicas do homem e da mulher
e com as expectativas dos papéis e das responsabilidades das mães
e dos pais, antes e depois do divórcio. Estas questões fundamentais
criam contracorrentes poderosas na mediação. Podemos vericar dis-
paridades signicativas de renda e de poder aquisitivo quando um dos
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