Modelos teóricos da mediação

AutorLisa Parkinson
Ocupação do AutorM.A. (University of Oxford), C.Q.S.W. (London and Bristol Universities)
Páginas63-100
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CAPÍTULO
MODELOS TEÓRICOS
DA MEDIAÇÃO
É muita coisa para uma palavra signi car – Alice disse pensativa –
Quando faço uma palavra trabalhar tanto, – disse Humpty Dumpty
– sempre lhe pago hora extra
(Lewis Carroll, Através do espelho)
SUMÁRIO: 1. Diferentes modelos teóricos da media-
ção.2. Mediação estruturada.3. Mediação transforma-
dora. 4. Mediação narrativa.5. Mediação ecossitêmica. 6.
Ecogramas.7. Princípios da mediação ecossistêmica.
8. Conexões entre sistemas familiares e outros sis-
temas. 9. Apego e perda.10. Mediação intercultural.
11. Mediação – Ciência ou arte?. 12. Uma estrutura
teórica coerente para a mediação familiar. 13. Tur-
bulência e mudanças – na mediação e nas famílias.
14. Teoria do caos.
1. DIFERENTES MODELOS TEÓRICOS DA MEDIAÇÃO
Ao estudarmos os processos da “mediação” encontramos grandes
variações em sua abordagem, modelos teóricos e técnicas (IRVING e
BENJAMIN 1995, ver também o Capítulo 12).
MODELOS TEÓRICOS
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mediação familiar
lisa parkinson
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Existem três abordagens bastante diferentes que aparecem cons-
tantemente como modelos básicos da mediação, são elas: mediação
estruturada, mediação transformadora e mediação narrativa. Encon-
tramos ainda uma abordagem mais ampla, não muito conhecida, mas
particularmente apropriada para os assuntos de família chamada de
mediação ecossistêmica (PARKINSON 1997, 2011) .
A “mediação familiar terapêutica” e a “mediação avaliativa” são
também utilizadas como referência, embora sejam bastante questio-
nadas, pois um mediador que fornece terapia ou avaliação estaria
ferindo os princípios fundamentais da mediação. Costuma-se dizer
que o conito na separação ou no divórcio não é uma condição que
necessita de tratamento. Como diz Robey (2009, p. 69): “As pessoas
em conito não querem terapia. Na maior parte das vezes elas acre-
ditam que o problema não existiria se o outro fosse mais razoável e
entendesse o seu ponto de vista”. Fazer julgamentos avaliativos que
podem, posteriormente, inuenciar a decisão do tribunal não faz parte
do papel do mediador.
2. MEDIAÇÃO ESTRUTURADA
“Os interesses mais poderosos são as necessidades humanas bási-
cas” (FISHER; URY 1983, 49)
A mediação estruturada ou orientada para o acordo é baseada no
sistema de negociação desenvolvido pelo Projeto de Negociação de
Harvard (FISHER; URY, 1983). Tal abordagem foi desenvolvida por
Fisher e Ury com base no trabalho pioneiro de Mary Parker Follett
(1942) no campo das relações de trabalho. Mary Parker Follett de-
fende o sistema dos “ganhos mútuos” em vez do tradicional sistema
de “negociação distributiva” que, geralmente, resulta em demandas
iniciais exageradas e em concessões forçadas.
A aplicação da mediação estruturada ou orientada para o acor-
do nos casos de divórcio foi levada adiante por Coogler (1978) e
Haynes (1981), cujos trabalhos se tornaram uma das maiores inuên-
cias no desenvolvimento da mediação familiar em muitos países.
A mediação estruturada é um modelo que visa assegurar a partici-
pação equilibrada das partes por meio de regras e diretrizes previa-
mente acordadas entre elas e o mediador. Este modelo estabelece
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limites físicos e psicológicos que ajudam a conter as emoções das
partes envolvidas, canalizando as energias para negociação e resolu-
ção dos problemas. Neste modelo de resolução de conitos, podem
ser acordadas reuniões separadas com cada um dos participantes
antes ou durante o processo de mediação. O papel do mediador é
claramente denido e distinto de outras funções.
Uma das principais características da mediação orientada para
o acordo é o seu foco em interesses e não em posições. Uma posi-
ção nada mais é do que a declaração de uma determinada solução.
Na maioria dos conitos, as partes tendem a se focar nas posições
para chegar ao resultado desejado. No entanto, posições geralmente
envolvem elementos estratégicos não negociáveis como acusações,
xingamentos e insistência sobre os direitos de um e negação dos direi-
tos do outro. Por outro lado, interesses são necessidades ou objetivos
subjacentes que podem ser cumpridos e que são, portanto, negociá-
veis. Exigir uma soma xa de pensão alimentícia é exemplo de uma
posição, enquanto pedir uma quantia que seja suciente para fornecer
uma moradia adequada é exemplo de um interesse. Por exemplo, um
casal pode estar discutindo sobre a quantidade de dinheiro que cada
um deles tem direito a receber. Como pais, eles podem ter um inte-
resse mútuo: dar estabilidade aos seus lhos e evitar uma mudança de
escola, se possível.
Na mediação estruturada, as partes são solicitadas, num primei-
ro momento, a apresentarem suas posições respectivas. O mediador
procura identicar os interesses que servem de suporte a tais posi-
ções e, assim, ajudar as partes a reconhecerem que mesmo em con-
ito é possível que ambas tenham interesses e necessidades comuns.
Os interesses podem ser concretos, por exemplo, a necessidade de
encontrar uma outra casa para morar, como também psicológicos, por
exemplo a busca de respeito e de amor-próprio. O mediador ajuda as
partes a procurar soluções chamadas “ganha-ganha” que satisfaçam o
maior número possível das necessidades de cada um. Os mediadores
costumam “pegar mais leve com as pessoas e pegar pesado com os
problemas”.
A abordagem estruturada permite às partes trabalhar em conjunto
para chegar a um acordo, em vez de desperdiçarem tempo e energia
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