Energias físico-químicas ? asfixias mecânicas
Autor | Neusa Bittar |
Páginas | 195-224 |
CAPÍTULO 8
ENERGIAS FÍSICO-QUÍMICAS –
ASFIXIAS MECÂNICAS
As energias físico-químicas referem-se às ações físicas (mecânicas) que desenca-
deiam alterações da química do organismo.
Neste contexto se enquadram as asfixias mecânicas, em que uma ação física, criando
um obstáculo à respiração, provoca, no sangue arterial, ao mesmo tempo:
• Redução do teor de oxigênio (hipóxia);
• Aumento do teor de gás carbônico (hipercapnia).
A asfixia é uma circunstância qualificadora do crime de homicídio, pois pressupõe
que o agressor agiu de surpresa ou com superioridade de força.
Seja qual for a situação, tem de haver um firme propósito homicida, uma vez que
a vítima não morre de imediato, levando geralmente mais de quatro minutos para tal.
FASES DA
ASFIXIA
• Inicialmente, há dispneia inspiratória, que é a di-
culdade para puxar o ar para dentro dos pulmões;
• A seguir, surge dispneia expiratória, isto é, diculdade
para expelir o ar, podendo haver convulsões;
• Sobrevém parada respiratória;
• Por m, surgem os últimos movimentos respiratórios
que precedem à morte.
Nas asfixias, a parada respiratória antecede a parada cardíaca.
Alguns sinais cadavéricos externos e internos podem levantar a suspeita de morte
por asfixia.
Sinais cadavéricos
Externos Internos observados na necropsia
• Cianose da face, que é a cor arroxeada ou
azulada da face;
• Cogumelo de espuma, devido à eliminação
de espuma pela boca e pelo nariz;
• Projeção da língua para fora da boca;
• Equimoses externas, com forma de petéquias,
na pele e mucosas da face, sobretudo nas
pálpebras e olhos (conjuntiva ocular);
• Livores cadavéricos escuros e precoces.
• O sangue é uido (líquido, não espesso, di-
luído) e escuro;
• Há equimoses viscerais com forma de peté-
quias, mais frequentes na região subpleural
e subepicárdica (abaixo das membranas que
recobrem o pulmão e o coração), denomina-
das Manchas de Tardieu, que podem aparecer
em qualquer tipo de asxia;
• Congestão, isto é, maior volume de sangue
nas vísceras;
• Hemorragia, edema e/ou ensema pulmonar.
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MEDICINA LEGAL E NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA • NEUSA BITTAR
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As petéquias externas e as viscerais (Manchas de Tardieu) formam-se pela ruptura
de pequenos vasos sanguíneos ocasionada por um aumento na pressão dentro deles.
São lesões inespecíficas, podendo ser encontradas em diferentes tipos de asfixia, assim
como em casos de mortes naturais por doenças (epilepsia, asma, coagulopatias etc.),
problemas cardíacos graves e como consequência de manobras de ressuscitação cardio-
pulmonar que aumentam a pressão intratorácica.
As petéquias na região da cabeça, em especial as conjuntivais e palpebrais, são
geralmente encontradas em asfixias por estrangulamento, esganadura, enforcamento
com suspensão incompleta do corpo e em asfixia por compressão torácica, porque a
compressão do pescoço ou tórax ocasiona um aumento na pressão dentro dos vasos
cranianos, devido à obstrução parcial ou total do retorno do sangue pelas veias, sem
afetar o afluxo sanguíneo arterial, pois as paredes das artérias são mais firmes.
São necessários cerca de dois quilos para obstruir as veias jugulares e cinco e 30
quilos, respectivamente, para obstruir as artérias carótidas e vertebrais.
Assim, se a pressão aplicada no pescoço ou tórax for elevada o bastante para obstruir o
retorno venoso do crânio, mas insuficiente para impedir o afluxo do sangue arterial, haverá
uma elevação na pressão intravascular craniana, ocasionando o rompimento de vênulas e
capilares. Por isso, quando não há diminuição no retorno venoso da cabeça, como nos afo-
gamentos, sufocação por obstrução dos orifícios respiratórios, atmosferas irrespiráveis, ou se
a força aplicada for suficientemente grande para obstruir também as artérias (enforcamento
com suspensão completa do corpo), não ocorrerá aumento da pressão sanguínea na região
da cabeça, e consequentemente não serão observadas petéquias nesta região.
1. CLASSIFICAÇÃO DAS ASFIXIAS VIOLENTAS
1.1. Asxias por obstrução das vias respiratórias
1.1.1. Sufocaç ão direta
É o impedimento da entrada do ar por obstáculo nos orifícios externos como boca
e nariz, ou nas vias aéreas superiores (antes de chegar ao pulmão).
1.1.1.1. Oclusão direta das narinas e boca
• Acidental, como ocorre em recém-nascidos e em adultos durante crise de epilepsia
ou embriaguez, cujas faces ficam apoiadas fortemente sobre travesseiros ou objetos
moles que se amoldam às mesmas, causando obstrução das narinas e boca.
• Criminosa, que exige desproporção de forças, como no infanticídio, em que a
mãe coloca algodão na boca e nas narinas do filho para abafar o choro.
No caso de bloqueio dos orifícios respiratórios com almofadas e travesseiros, os
sinais exteriores da agressão são mínimos, mas quando o agressor utiliza as mãos, podem
ser observadas severas contusões no nariz e lábios.
O envolvimento da cabeça da vítima por várias camadas de pano, de forma crimi-
nosa, também provoca esse tipo de asfixia (smotherin).
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