A formação da consciência da virtude

AutorMarcella Furtado de Magalhães Gomes
Páginas129-131
4) A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA DA VIRTUDE
A preocupação aristotélica em situar o princípio da ação ética no
homem para fundamentar a responsabilidade de suas ações, leva-o a
tecer considerações acerca da psicologia do ato moral.
Aristóteles busca romper com a doutrina socrático-platônica da
virtude-ciência, na qual a prática de atos não virtuosos dá-se por
ignorância.
O filósofo estabelece, assim, o princípio da ação na
espontaneidade do querer do homem governada pela deliberação
racional dos meios adequados à consecução dos fins a que tendem as
ações humanas. Entretanto, estes fins que caracterizam a virtude ou
não da ação não são passíveis de deliberação.
A solução apresentada pelo estagirita na determinação da
volição dos fins parece contraditória: para tornar-me bom, devo
querer os fins bons; mas só os reconheço como tais em si se sou bom.
Para o pensador grego, o sujeito, por meio do logos, tende ao
bem. Este bem é objetivo externo ao sujeito, imanente ao ethos (eta
inicial – hqoς) grego. Assim, o sujeito através da interiorização deste
ethos por meio da praxis constante ou habitual se conscientiza da
virtude de suas ações. E, ao final, pratica as ações virtuosas por elas
mesmas, como forma de atingir a perfeição de si mesmo.
Este processo somente pode ser entendido no seio da polis grega,
na qual o indivíduo está diluído no cidadão, na sociedade política.
Portanto, o ethos (épsilon inicial eqoς), adquirido pelo hábito,
encontra-se objetivado na lei, constituída pela reta razão legislativa.
Aristóteles nos diz que a virtude ética se adquire pelo hábito, ou
seja, pela disposição permanente da ação virtuosa. A formação do
hábito ético, por sua vez, depende da paideia, ou seja, de sermos
educados para agir virtuosamente. Assim, cada vez que nosso agir se
em conformidade com a ação virtuosa para a qual fomos
educados, estamos adquirindo o hábito de praticar a virtude, mas
também estamos interiorizando a virtude. À primeira vista pode
parecer que estamos recebendo algo externo, extrínseco. Estamos
sendo moldados pela educação a agir de tal forma. Entretanto, se
visualizamos mais de perto, podemos perceber a interação desse

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