A importância da informação adequada como instrumento de proteção dos vulneráveis: o exemplo do crédito consignado e do cartão de crédito consignado

AutorCíntia Muniz de Souza Konder
Páginas275-285
A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO
ADEQUADA COMO INSTRUMENTO DE
PROTEÇÃO DOS VULNERÁVEIS:
O EXEMPLO DO CRÉDITO CONSIGNADO
E DO CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO
Cíntia Muniz de Souza Konder
Sumário: 1. Introdução – 2. Vidas a crédito – 3. Da vulnerabilidade à hipervulnerabilidade: a construção
de uma categoria de proteção da suscetibilidade agravada – 4. A função da informação adequada como
instrumento de proteção dos vulneráveis: o exemplo do crédito consignado e do cartão de crédito
consignado – 5. Conclusão.
Como nas outras transformações da Era Moderna, também nesta a Europa desempenhou o papel
precursor. Foi a primeira a ter de enfrentar as imprevistas e perniciosas consequências regulares
da mudança: a estressante sensação de insegurança que, como se dizia, não teria ocorrido sem a
ocorrência simultânea de duas “reviravoltas” que se manifestaram na Europa – para em seguida se
disseminar mais ou menos rapidamente, pelos outros lugares do planeta. A primeira, sempre segundo
a terminologia de Castel, consiste na “supervalorização” (survalorisation) do indivíduo, liberado das
restrições impostas pela densa rede de vínculos sociais. A segunda, que vem logo depois da primeira,
consiste na fragilidade e vulnerabilidade sem precedentes desse mesmo indivíduo, agora desprovido
da proteção que os antigos vínculos lhe garantiam.
Se a primeira revelou aos indivíduos a estimulante e sedutora existência de grandes espaços nos quais
implementar a construção e aprimoramento de si mesmo, a segunda tornou a primeira inacessível
para a maior parte dos indivíduos. O resultado da ação combinada dessas duas novas tendências foi
como aplicar o sal do sentimento de culpa sobre a ferida da impotência, infeccionando-a. Derivou
disso uma doença que poderíamos chamar de medo de se tornar inadequado.1
1. INTRODUÇÃO
Zygmunt Bauman analisa, a partir da perspectiva dos espaços urbanos das metró-
poles, os conitos decorrentes da inevitável convivência das classes socioeconômicas
destoantes. Uma das angústias experimentadas por aqueles que estão nas faixas menos
favorecidas é o medo de se sentir inadequado.
Os moradores das periferias, muitas vezes tendo que viver com salários ou apo-
sentadorias que não custeiam o básico para uma vida digna, dicilmente conseguem a
inserção no mercado de consumo. O quadro ca ainda pior quando se trata do consumo
para a aquisição bens e serviços imprescindíveis para a sobrevivência. Neste caso, o medo
1. BAUMAN, Zygmunt. Conança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 16-17.

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