Prefácio

AutorEstevan Lo Ré Pousada
Ocupação do AutorBacharel, Mestre (2006) e Doutor ('summa cum laude') em Direito Civil pela Universidade de São Paulo (2010)
Páginas9-12

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A geometria terá sempre por referencial Euclides. Ainda as não-euclideanas, por negação. Sua obra principal, Os elementos, é uma das mais impressas em todo o mundo. Construiu um autêntico sistema, a partir de três componentes: o ponto, a reta e o plano, profundamente inter--relacionados. Esta sabedoria da simplicidade, abandonada por parte da doutrina jurídica, especialmente em direito privado, é retomada nesta singular obra do Professor Doutor Estevan Lo Ré Pousada, Direito Privado Aplicado – Por uma Escola «Heterônoma» de Direito Civil.

Dotado de notável e já proverbial erudição e singular habilidade no manuseio das fontes, o autor apresenta ensaios sobre temas atuais, como o estabelecimento virtual e a tutela possessória de direitos autorais, ao mesmo tempo em que trata com maestria de assuntos clássicos, como a obra do Jurista do Império, Augusto Teixeira de Freitas, o pensamento de Friederich Karl von Savigny e outros. Trata-se, como já disse Antônio Cândido da obra de Sérgio Buarque de Holanda, de um “clássico de nascença”. Obras como estas são raras na atualidade, por várias razões. A sociedade contemporânea, certamente hipercomplexa, tem nas suas facilidades grande obstáculo para exposições desta natureza: a revolução tecnológica, a aceleração do tempo e a rotina das grandes cidades impedem a leitura atenta e profunda, a meditação, o rigor metodológico, a preocupação com o rigor na formação pessoal. Entretanto, o esforço e a vocação do autor permitiram-no ingressar, desde muito jovem e com destaque, em uma categoria muito particular de pessoas: a dos juristas, que têm formação completa, geral, profunda, sem perder a habilidade de fornecer soluções e propostas concretas e operacionais para as questões do direito.

Diz-se que os advogados nascem, mas os juízes fazem-se. Isto porque no advogado é preciso o talento da juventude, que o leva a ser admirado quando argumenta, propõe, usa estratégias, vale-se da retórica. O juiz precisa de virtudes que só o tempo e o esforço cotidianos trazem, para ter autêntica imparcialidade, a sabedoria dos anciãos. Calamandrei, comen-

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tando a máxima advocati nascuntur, iudices fiunt, justifica-a “no sentido de que aquelas virtudes de combatividade e de impetuosidade, que mais se pregam na advocacia, são próprias da juventude apaixonada e exces-siva, enquanto apenas o passar dos anos amadurece aquelas qualidades de ponderação e de sabedoria, que constituem os melhores dotes do juiz”...

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