Prefácio

AutorRoney de Seixas Andrade
Ocupação do AutorDoutor em Ciência da Religião ? Instituto de Ciências Humanas ? Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Páginas11-14
PREFÁCIO
A presente obra versa sobre aquele que se constitui um dos
eixos dinâmicos mais significativos da história do Ocidente, sendo,
portanto, um dos principais fios condutores para a sua própria
compreensão: as relações, articulações e tensões entre religião e
política.
Partindo da ideia segundo a qual os contatos e as interações
entre as esferas política e religiosa persistem no interior do Estado
moderno das sociedades democráticas, a despeito de seu
comprometimento com os princípios da laicidade, questiona-se aqui
a existência de uma linha de separação capaz de estabelecer uma
plena disjunção entre essas duas esferas.
Quando levamos em consideração, por exemplo, as questões
relativas ao controle de natalidade e à utilização de métodos
anticontraceptivos, ao controle de doenças sexualmente
transmissíveis, ao aborto, à união homoafetiva, à clonagem genética
e às experiências com as chamadas células-tronco, percebemos que
todas essas questões demandam decisões políticas e jurídicas que
atraem inevitavelmente o interesse de religiosos, que não raras vezes
procuram mobilizar-se politicamente para fazer prevalecer sobre tais
decisões as suas crenças e valores religiosos. Diante de tal
comportamento pode-se indagar: se o Estado é laico, por que as
religiões continuam a desempenhar nas sociedades contemporâneas
uma função pública ou mesmo um papel político?
Avaliamos que a dificuldade em se instituir a ruptura radical
deste monismo político-religioso deve-se em grande medida à
natureza e função próprias da religião.
Como nos faz saber o filósofo francês Marcel Gauchet,
sobretudo em sua obra Le désenchantement du monde: une histoire
politique de la religion, 1985, diferente do que possa se pensar, a
religião não se reduz a crenças religiosas e a práticas associadas,
antes, está relacionada a formas de ordenamento do mundo humano-
social, a modos de compreender e de instituir o estar-junto coletivo,
o vínculo entre os seres, o poder e as comunidades. Assim sendo, se

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