Rábula Francês

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas297-298

Page 297

No foro de São Paulo, ao tempo do Império, advogava o cidadão francês Barnabé Vincent, recambiado dos ares de Marselha para a Paulicéia.

Por mais que estudasse e praticasse a língua portuguesa, sempre faltava-lhe uma palavra num ou noutro período, numa ou noutra oração.

Por isso, calmamente, encaixava em substituição à palavra portuguesa que ignorava, o termo equivalente na língua francesa.

"Certa vez, defendia ele um acusado de crime de estrangulamento. Em audiência, Vincent estava presente e o MM. Juiz interrogava uma testemunha, senhora já idosa, que se mantinha tesa, solene.

Após o interrogatório, como é de praxe, o Juiz deu a palavra ao advogado de defesa para interrogar, querendo, a testemunha.

Vincent, solerte, dirige-se à dama e interroga-a.

- A senhora assistiô o estrangulamânto?

- Sim, senhor.

- Bien. A senhorra, então viô ele pegar o otrô pelo ...

Aqui faltou a Vincent a palavra, o vocábulo em português. Queria ele dizer pescoço, mas a palavra não lhe ocorria.

Com absoluta calma, então, recorreu ao termo francês, dizendo-o alto e em bom som.

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A testemunha, vexada, olhou com espanto para o Meritíssimo Juiz, que, na sua poltrona, já...

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