Teoria de gênero

AutorMaria Helena Barbosa Campos
Páginas195-215
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TEORIA DE GÊNERO
Maria Helena Barbosa Campos
Mestre e doutora em Direito Canônico pela Universidade Late-
ranense de Roma. Professora da Faculdade de Direito Canônico
São Paulo Apóstolo. Licenciada em Filosofia. Advogada e juíza
do Tribunal Eclesiástico de São Paulo. Advogada em São Paulo.
Sumário: 1. Marxismo: o berço da questão de gênero – 2. Defini-
ção do termo gênero – 3. O feminismo do gênero – 4. Conclusão
– Referências bibliográficas – Anexos.
1. Marxismo: o berço da questão de gênero
O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) concebeu um
ideal de sociedade igualitária que viria à luz pela concentra-
ção de poder, mediante a ditadura do proletariado, que estati-
zaria todos os meios de produção, revolucionando a estrutura
econômica.
Para ele, a “ideologia” como tal, era uma excrescência
burguesa, pela qual moldava o comportamento da sociedade
em corroboração ao establishment, a si favorável, e desapare-
ceria com o advento de uma economia igualitária.
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“Ideologia”, para Marx, era a filosofia como tal, e não re-
cairia nela apenas a “ação revolucionária” pura e simples, que
causasse a transformação da realidade imediatamente. Por-
tanto, sua própria teoria incorria naquilo que ele pensava ser
a causa mesma da “alienação”.
Marx era um burguês e, pensava como tal, mas era cons-
ciente de que sua abordagem deveria ser encarada apenas
como uma engrenagem do processo revolucionário, cujas
etapas são sempre autoaniquilatórias, contraditórias por de-
finição, o que contrasta grandemente com a pretensão de
qualquer coerência lógica. Portanto, o “primeiro” Marx esta-
va concentrado sobre a revolução econômica, pensando ser a
“propriedade privada” o grande obstáculo para a igualdade.
Marx dedicou anos à reflexão e à análise em seus cons-
tantes estudos. Foi aprimorando com o passar dos tempos sua
percepção, refinou a qualidade de seus juízos, mudou, adqui-
riu maior argúcia em seus arrazoados, chegando à considera-
ção de um aspecto que passou inadvertido nos primeiros anos
de sua reflexão.
Na obra “Sobre a Origem da Família, da Propriedade Pri-
vada e do Estado” – Der Ursprung der Familie, des Privatei-
gentums und des Staats –, de autoria inacabada de Marx, mas
publicada e assinada por Friedrich Engels, chega à conclusão
de que a verdadeira causa da desigualdade social é a famí-
lia. Resumidamente, afirma que os homens primitivos viviam
em hordas nas quais havia total liberdade sexual e, portanto,
predominava um modelo tendencialmente mais matriarcal, já
que se ignoraria a própria procedência paterna. Em um deter-
minado momento, os machos, pela força física, exigiram fide-
lidade das fêmeas, fazendo-as tornarem-se sua propriedade
privada, juntamente com seus filhos. A partir de então, cons-
truiu-se o conceito de patrimônio (ligado ao pater), do qual
decorreu o de matrimônio (no qual a mater é propriedade do
macho). Como sustento desse sistema de submissão surgiu o
Estado, reconhecedor e garante do mesmo.
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