Trabalho digital, serviços e valor
| Autor | Ricardo Antunes |
| Ocupação do Autor | Professor Titular de Sociologia do Trabalho na UNICAMP |
| Páginas | 31-36 |
CAPÍTULO 1
(1) Professor Titular de Sociologia do Trabalho na UNICAMP. Autor, entre outros livros, de O Privilégio da Servidão (Boitempo, 2018); Os Sentidos
do Trabalho (publicado originalmente no Brasil (Boitempo) e também na Itália, Inglaterra/Holanda, EUA, Portugal, Argentina e Índia); Adeus ao
Trabalho? (publicado originalmente no Brasil (Cortez) e também na Argentina, Itália, Espanha, Colômbia e Venezuela). Coordena as Coleções
Mundo do Trabalho, pela Boitempo e Trabalho e Emancipação, pela Expressão Popular.
(2) Este artigo é parte de nosso projeto de pesquisa junto ao CNPq (O Uno e o Múltiplo: Desenhando a Nova Morfologia do Trabalho). Ele retoma
ideias que foram desenvolvidas em O Privilégio da Servidão. A respeito, consultar: ANTUNES, Ricardo. O Privilégio da Servidão. São Paulo: Edi-
tora Boitempo, 2018.
(3) LOJKINE, J. A revolução informacional. São Paulo: Cortez, 1995; ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013;
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão. São Paulo: Editora Boitempo, 2018; Lojkine, 1995; Antunes, 2013 e 2018; Sotelo Valência, 2012);
SOTELO VALENCIA, A. Precariado ou proletariado? Bauru: Projeto Editorial Praxis, 2016.
Trabalho Digital, Serviços e Valor
RICARDO ANTUNES
(1)
Resumo: O presente artigo pretende indicar algumas respostas para as seguintes indagações: quais são as principais consequên-
cias do avanço das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no mundo do trabalho, particularmente no setor de serviços?
Que modalidades de trabalho o “setor de serviços” vem gerando, dada a sua inserção crescente no processo de criação do valor?
Estamos presenciando o advento de uma “nova classe média” ou, ao contrário, estamos frente a um processo de ampliação do
novo proletariado de serviços?
Palavras-chave: Proletariado digital e de serviços. Serviços e criação de valor.
Abstract: This article aims to indicate some answers to the following questions: what are the main consequences of the advance-
ment of information and communication technologies (ICT) in the world of work, par ticulary in the service sector? What types of
work has the “service sector” been generating, given its increasing insertion into the process of value creation? Are we witnessing
the advent of a “new middle class” or, on the contrary, are we facing a process of expansion of the new proletariat of services?
Keywords: Digital and service proletariat. Services and value creation.
1. INTRODUÇÃO: A PRECARIZAÇÃO DO
TRABALHO DIGITAL(2)
As mais distintas modalidades de trabalho presen-
tes no capitalismo informacional-digital-financeiro, ao
contrário de tornar inoperante a lei do valor, vêm am-
pliando suas formas de vigência, ainda que frequente-
mente sob a aparência do não-valor. O valor torna-se
um não-valor para criar mais-valor. Impossibilitado de
se valorizar sem realizar alguma forma de interação
entre trabalho vivo e trabalho morto, o capital procura
aumentar a sua produtividade do trabalho, ampliando
os mecanismos de extração da mais valia, através da
expansão do trabalho morto corporificado no maqui-
nário tecno-científico-informacional e também através
da intensificação e diversificação do trabalho vivo, re-
criando novas formas de exploração e mesmo de supe-
rexploração da força de trabalho(3).
Neste movimento, todos os espaços possíveis tor-
nam-se potencialmente geradores de mais-valia, uma
vez que os serviços que foram privatizados fizeram flo-
rescer novos mecanismos utilizados pelo capital, me-
canismos estes desempenhados pelos trabalhadores
e trabalhadoras que atuam nas tecnologias de infor-
mação e comunicação (TIC), call center, telemarketing,
hotelaria, limpeza, comércio, fast food, hipermercados,
trabalho do care (cuidados) etc., que frequentemente
realizam trabalhos intermitentes, temporários, infor-
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