A Bengala

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas218-221

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Escrevendo para o "Jornal do Comércio", em 1933, o advogado Evaristo de Moraes contou valiosas experiências de sua agitada vida de brilhante criminalista.

"Entre os antagonistas com que eu me bati, durante anos, devo aqui, em justa homenagem, destacar uma figura esquecida, de Jayme Miranda.

Conheceram-no em moço poucos, dentre os presentes. Era, como acusador, quem, a meu ver, reunia há trinta e tantos anos, as faculdades mais temidas pela defesa.

Adotava, conforme o caso, os dois sistemas - o analítico e o sintético, e quando punha o último em contribuição, não deixava de se revelar emocionado e enérgico.

Não enérgico em excesso, à guisa de Lima Drumond, quando promotor, levando as invectivas aos réus aos extremos nunca vistos.

Contrastava a forma de Drumond com a de Viveiros de Castro, Francisco José Viveiros de Castro.

Este, tão ou mais adversário do Júri do que quantos hoje lhe movem impiedosa guerra, não tinha arroubos na cadeira do Ministério Público, não aparteava, não apelava.

Percebia-se que ele era um inimigo respeitador do Tribunal popular.

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Defensores, dentre os mortos, porque somente deles me quero lembrar agora, havia-os, também, de diferentíssimos feitios intelectuais e emocionais.

O mais romântico, o mais engrandecedor dos debates, o mais preocupado com os efeitos teatrais do discurso sobre a multidão era Alberto de Carvalho.

Recentemente, num livrinho de Maurice Hamburger, intitulado "La Defense", li que, certa feita, Moro-Giaferri, de quem já se disse que é magnífico ator, ao protestar contra uma atitude parcial do presidente do Júri, rasgara, de cima a baixo, em pleno Tribunal, a própria beca.

Eu vi aqui no Rio de Janeiro, num debate comigo, Alberto de Carvalho descer, correndo, da tribuna e cobrir dramaticamente, solenemente, a cabeça do réu - que eu acusara e ele defendia - para que não ouvisse aquilo a que ele chamou horríveis blasfêmias.

No juízo que formei outrora, e hoje mantenho acerca da maneira de Alberto de Carvalho, acompanho a Henri Robert, criticando alguns colegas franceses que forçam a nota emotiva, que a tornam pesada.

Diz o mestre dos mestres da advocacia criminal em França: "Nada é mais falso do que o estilo ou o gesto teatral na tribuna forense; dá impressão de insinceridade".

No gênero rabulice tolerável, também presenciei um gesto que me ocasionou imprevista derrota.

Discutia-se a capacidade contundente de uma bengala, instrumento do crime, que não fora examinada e não tinha...

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