Duas Grandes Defesas do Rábula

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas185-189

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Crime célebre foi o cometido pelo acadêmico Luís Lacerda, filho do cientista João Batista de Lacerda, então diretor do Museu Nacional. Foi em 24 de abril de 1906, resultando como vítima o médico João Ferreira de Moraes e a bela Clymene de Bezanilla. Enquanto morrera a primeira vítima, ficara apenas ferida a formosa senhora.

O crime, que alcançou as páginas dos principais jornais da época, sacudiu a sociedade brasileira, tendo logo sido convidado para assumir a defesa do réu o criminalista Evaristo de Moraes.

No entardecer do dia dos fatos, o acadêmico Lacerda postou-se nas imediações do Hotel Whyte, quando dele saiu o dr. Ferreira de Moraes para encontrar-se com a viúva. Encontrando-o, o réu disparou vários tiros de revólver na vítima, que não demorou muito a falecer.

Em seguida, o criminoso dirigiu-se a um posto policial, mas, encontrando-se com Clymene de Bezanilla, contra ela desferiu vários tiros, ferindo-a. Deixou-se prender em flagrante.

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Além de Evaristo de Moraes, trabalhou também na defesa o advogado Silva Nunes.

Procurado, o jovem criminoso recusou-se a auxiliar a sua própria defesa, confessando que desejava ser condenado, dado o grande amor que nutria pela viúva.

"Não era lícito, porém, aos defensores permitir o sacrifício do acusado, sem tentar o supremo esforço.

Fizemo-lo junto à pessoa da família e ela nos forneceu, na insciência de Lacerda, preciosíssima coleção de cartas. Foi-se o segredo. Verificamos então, que durante três ou quatro anos, Lacerda e d. Clymene mantiveram relações, que, começando em simples "flirt", foram subindo em intensidade a extremos íntimos de significação inequívoca. A vítima, sobrevivente, na delegacia, disse que entre ela e Lacerda houvera apenas uma proposta, não aceita de casamento.

O julgamento realizou-se a 25 de fevereiro de 1907, nos baixos da Corte de Apelação, na Rua do Lavradio, onde funcionava o Júri. Presidiu o julgamento o dr. Saraiva Júnior e funcionou como promotor público o dr. Cesário Alvim. Assistente de acusação era o dr. Melo Mattos, advogado de incontestável talento.

Tinha eu, como arma principal, a coleção de cartas escritas a Lacerda por d. Clymene.

Àquele tempo, ainda não se havia acoimado de nulidade o ato da acusação ou da defesa, consistente em juntar ao processo, à última hora, em plenário, documentos do juízo formado acerca da causa.

Era prática comum.

Baseou-se, portanto, meu discurso na demonstração de ter havido entre Lacerda e a também acusadora...

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